Alarme

João César das Neves

Destak 30 | 07 | 2009 08.04H

O papel da comunicação social é decisivo na sociedade mediática e nem sempre é bem compreendido. Sendo o espelho da comunidade, os meios informativos acabam frequentemente acusados dos males que apenas revelam. Ao mesmo tempo é preciso dizer que a forma alvoroçada e sensacionalista com que em geral relatam as questões desvirtua a sua nobre função.

Se não for grave não merece atenção e por isso tudo deve ser relatado da maneira mais assustadora possível. Muitas vezes os repórteres parecem abutres à espera do deslize, da crise, do agoiro. O que corre bem não lhes interessa e tudo o que é mau aparece empolado, repetido, escalpelizado.

O argumento usado é que o público merece ser informado. Mas o mesmo facto é relatável de formas muito diferentes, e os repórteres não têm de escolher sempre a mais alarmista. Um bom exemplo passa-se agora com a "pandemia da gripe". Os sucessivos jornais, escritos ou falados, insistem em acumular as vítimas registadas em Portugal desde o princípio, celebrando com gulosa atenção cada vez que se ultrapassa nova barreira numérica. A esmagadora maioria dessas pessoas estão curadas há muito e seguem a sua vida normal. Mas continuam a figurar numa estatística que se torna cada vez mais apavorante.

Apesar de tudo, a histeria da comunicação social é bastante melhor que o pessimismo negro e a desilusão amarga dos comentadores nacionais, nos bancos de café ou nas páginas dos periódicos. Uma pessoa alarmada tem pensamento positivo, enquanto o derrotismo nacional, por muito fundamentado que seja, só destrói.

João César das Neves | naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

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