Raríssimas
A Raríssimas, Associação Nacional de Deficiências Mentais e Raras, não podia aguentar-se à custa de um mecenas. Estes são raros em Portugal. Fosse o caso, uma Raríssimas rara porque a viver de dinheiros privados, não faria sentido a recente reportagem da TVI sobre a Raríssimas e a gestão da sua presidente. Cada um faz o que quer da sua caridade. Da sua. Mas a Raríssimas é uma instituição que, embora privada, sobrevive graças a subsídios estatais (665 mil euros em 2016). Porém, nem mesmo essa condição de dependente de donativos oficiais pode proibir à presidente os tiques de soberba que lhe são assinalados na reportagem. A presidente emprega o filho e apresenta-o publicamente como "o herdeiro da parada" (isto é, da Raríssimas); a presidente fazia levantar o pessoal de cada vez que ela passava no corredor; enfim, a presidente é quero, posso e mando... Não gosto, mas não é isso o essencial. Sempre houve grandes dirigentes com manias dessas e bem estúpido seria a TVI, eu e os leitores exigirmos modéstia aos grandes fazedores. Até Albert Schweitzer, quase santo, era paternalista com os seus doentes leprosos, no Gabão... O problema com a presidente da Raríssimas, e que torna útil a reportagem da TVI, é que a senhora não pode vestir--se caro, andar de carro de gama alta, ter um salário desmesurado e essas despesas serem imputadas à Raríssimas. Isto é, se ela quer fazer caridade paga pelos contribuintes não pode ser consigo própria. Acresce ao abuso público uma indecência: o prejuízo causado por ela a gente e instituições que, ao contrário da senhora, não abusam. E esse é o crime maior. A presidente da Raríssimas atirou os deficientes portugueses, raros ou não, para o seu destino vulgar: em nome deles serem ainda mais desapossados.
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