A solidão do Natal



INÊS TEOTÓNIO PEREIRA   16.12.2017

Percebo que não se goste do Natal. Conheço pessoas, muitas mesmo, que me dizem detestar o Natal. Assim, com mágoa. E são várias as razões: porque adivinham ou têm memória do inferno que é andarem de um lado para o outro entre a casa da mãe, a casa do pai, dos vários avós e das discussões sobre as horas de entrega; porque não têm dinheiro e têm presentes para comprar; porque estão zangadas com mais de metade da família e o Natal abre essas feridas; porque não aguentam a pressão de ter de sorrir quando só lhes apetece chorar; porque é quando nos dói mais a saudade de quem já partiu. O Natal assim é um suplício. É triste. Sobram poucas razões para se gostar do Natal desta festa de presentes e comida. A mim, por exemplo, angustia-me pensar nos presentes que tenho de comprar, nos preparativos que devo fazer, na pressão de conseguir estar à altura das expectativas dos meus filhos, que dificilmente aceitam que estes não sejam dos dias mais felizes do ano - como lhes criar memórias à medida de Charles Dickens com o agravante de não nevar onde vivo? Enervam-me as filas, as lojas, o bombardeamento de ofertas de programas, de espetáculos, donativos, bazares, vendas, feiras. Nada se faz sem comprar. É tenso e é caro. Tenho um amigo que todos os natais pega nos filhos e vai passar 15 dias fora. Longe. Ele foge, e com razão, deste Natal. Um Natal que pode ser uma época triste e confusa porque, quando sustentada em alicerces tão frágeis como sejam a conta bancária ou a estabilidade familiar, basta um estremecer para se transformar numa ruína.

Mas o Natal não é isto. O Natal, antes de tudo, é uma festa religiosa. A sério, sei que parece estranho dizer isto quando as únicas festas que nos ocorrem são as dos saldos e dos banquetes, mas é verdade. O Natal é quando se vive o nascimento de Jesus, que, na humildade e vulnerabilidade, nos vem trazer Esperança. É quando os católicos aproveitam para reforçar a sua fé e começar de novo, nascendo com Jesus. Enfim, é complicado para quem não acredita nestas coisas. Mas, por mais voltas que se dê, o Natal é isto. Não é uma festa de família e muito menos é das crianças - o que torna as crianças especiais no Natal é elas gostarem mais de presentes do que a generalidade das pessoas. Só isso. Daí a minha luta todos os natais: Pai Natal vs. Menino Jesus. É que Natal sem Jesus, sem o único e verdadeiro alicerce que o sustenta, pode ser um inferno de solidão, assim como é tantas vezes a vida sem esperança e alegria. O Natal, meus amigos, não é sobre nós: é para nós.


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