Deseducar adolescentes
INÊS TEORÓNIO PEREIRA DN 09.12.2017
Ninguém é competente para educar adolescentes. Ninguém. Qualquer mãe ou pai de adolescentes não sabe o que faz, como se faz e onde vai acabar a borrada que se faz. Um adolescente é o exame de Matemática dos pais. Está cheio de equações indecifráveis, de matéria que não se estudou e só consegue passar quem tem experiencia, quem praticou. O que exclui à partida a esmagadora maioria dos pais. Há uma coisa que os pais de adolescentes têm que mais pai nenhum tem na mesma medida: a culpa. Nós assumimos com rigor a culpa por o nosso adolescente ser inseguro, ríspido e estar em silêncio horas a fio. Que cada borbulha, cada fragilidade, cada falta de autoestima é resultado de anos e anos de incompetência nossa. Nós sabemos melhor do que ninguém que fazemos imensa borrada: que damos mimos a mais e a menos, importância a mais e a menos, berramos de mais e de menos, que mudamos de estratégia com a mesma frequência com que mudamos de canal, que os tratamos como adultos ou como crianças. Não sabemos até onde temos de tolerar a irreverência (o que é irreverência e má-criação), quais as horas a que os mandamos para a cama, quando é que eles podem andar na rua sozinhos, o que se passa no maldito telemóvel, quem são os amigos. Confiamos ou desconfiamos? Somos amigos ou assumimos a nossa posição hierárquica superior sem cedências? Fingimos que sabemos ou que não sabemos dos disparates que eles fazem e das mentiras que nos dizem? O que é que quer dizer "é próprio da idade"? Não sabemos. Um adolescente é um exame de Matemática de escolha múltipla.
O problema da adolescência é que nos mói em silêncio. Uma criança grita, faz birras, tem febre: cansa. Um adolescente, pelo contrário, cala-se, fecha a cara e tem momentos dolorosos de tristeza: desgasta. Nós sabemos, porque nos lembramos, que um adolescente vive a olhar por cima do ombro, inseguro, à luta com a sua autoestima, com as borbulhas e com o liceu inteiro por causa dos ténis, do estilo, dos amigos. E nós, pais, somos as baratas tontas que andam à volta, a enchê-los de perguntas, de castigos e de mimos, a encher o prato de proteínas e o armário de roupa que eles não gostam. Sem rumo e sem critério. Simplesmente à espera que passe e que a paz volte. Até lá fazemos uma das maiores parvoíces que se pode fazer a um adolescente: damos conselhos, conversamos sacando da nossa experiência de vida. Tipos sábios anciões. Nós, que fizemos o dobro das asneiras que eles nem imaginam fazer, a dar conselhos. Não faz sentido e eles sabem.
Não, ninguém sabe como educar adolescentes e nós, pais, muito menos. Resta-nos esperar e não os largar.
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