Febre da gripe
DESTAK | 24 | 03 | 2010 21.21H
João César das Neves | naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
Ainda se lembra da gripe A? Justificou a mais maciça campanha de informação, consciencialização e profilaxia da história nacional. Todas as instituições e edifícios públicos foram dotadas de cartazes, panfletos, salas de gripe e dispensadores de desinfectante.
Estado, empresas e cidadãos gastaram milhões nisso, além das despesas com especialistas em serviços de atendimento e milhões de doses de vacina. Foi sem dúvida uma das mais organizadas e exaustivas iniciativas públicas de sempre. As autoridades estiveram ao nível das exigências. Só a gripe não correspondeu às expectativas.Não foi por falta de colaboração da imprensa, que se fez eco do mais pequeno aviso e empolou todos os medos, cautelas e informações. Políticos, comentadores e funcionários, todos entraram na febre da gripe. Mesmo agora jornais e televisões continuam a colaborar e não desistem de procurar afanosamente novos surtos para manter o nervosismo. O que faltam são doentes.
Houve pessoas afectadas e até mortes, como todos os anos na gripe habitual. A situação está longe da paralisante catástrofe anunciada. O país sofreu mais com a despesa que com a doença. Como muitos médicos diziam há muito em privado, o grau de alarmismo e movimentação era demente. Aliás, bastava comparar os esforços portugueses com os dos nossos parceiros para ver a diferença. Se Portugal tinha razão sobre o perigo gripal, então todos os outros países eram inconscientes.Ninguém será responsabilizado por este enorme desperdício. Será que ao menos alguém aprenderá com ele?
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