A direita que não há
por Jaime Nogueira Pinto, Publicado em ionline, 25 de Agosto de 2009,
Há o ressurgimento dos valores tradicionais da direita, mas não há um partido onde as pessoas se sintam bem representadas
A direita continua desaparecida da vida política portuguesa. Como se o interdito "antifascista" lançado no 25 de Abril perdurasse. E dura e perdura. Apesar de passados 35 anos, que viram o fim da União Soviética e do comunismo, o descrédito do modelo socialista, o ressurgir das nações e da importância da nação e da religião - os valores da direita. E, the last but not the least, da reconhecida necessidade de um pensamento alternativo.
Porque há intelectuais e políticos de direita, militantes, publicações - e sobretudo eleitores - que se identificam com a direita. Mas não há um partido político onde estas pessoas se sintam representadas, sem ambiguidade nem oportunismo.
A esquerda antifascista e o poderoso bloco de crenças, políticas, cumplicidades e interesses que lhe está associado, mantém os seus adversários neste estado de servidão, numa cidadania de segunda classe. Para além da bandeira da liberdade económica (de pouca importância a partir do momento em que a China e a Rússia e todos os comunistas, menos os portugueses, passaram a capitalistas), a esquerda impôs os seus valores como os únicos admissíveis e discutíveis em democracia. E toda a gente se deixou intimidar e reduzir ao silêncio.
Isto não seria possível se os partidos geometricamente na direita não contassem com o voto útil e o mal menor, grandes institutos da democracia e da mentalidade de um povo que se crê manhoso e paciente. E nos períodos eleitorais é sensível à retórica ordeira e roncante, para impressionar o burguês.
No pós-25 de Abril e na repressão subsequente, fez sentido a recusa, à direita, de criar um "partido de direita", que seria um alvo cómodo e um abcesso de fixação para os antifascistas mais zelosos. E também para que as suas ideias pudessem ser passadas e espalhadas pelas várias forças políticas e não guardadas em redoma como um exclusivo de marca de origem.
Mas hoje há um crescente absentismo dos eleitores e estão em jogo, outra vez, entre a dimensão da crise financeira e a questão nacional, coisas muito importantes. E falta uma alternativa ao activismo bloquista, que aparece como único desafio ao sistema.
Assim talvez faça sentido perguntar se os valores e princípios, alternativos aos dominantes, não terão, para ser efectivamente defendidos, de contar com pessoas e organizações que os assumam tal e qual. E com inteligência, coerência e legitimidade.
Professor universitário
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