Salvador de almas
É “um pai que fala e guia para Cristo”, uma “personalidade marcante”. Há até quem diga que é “o mais brilhante, criativo e, certamente, dos mais zelosos padres que a Igreja de Lisboa gerou no pós-concílio”. O cónego João Seabra celebrou 40 anos de ordenação e os amigos publicaram um livro com “histórias da vida” do sacerdote, que o Presidente da República vai condecorar em Belém.
“Um grande pai para milhares de pessoas. Um pai que nos fala e nos guia para Cristo”. É desta forma que o Presidente da República se refere ao cónego João Seabra, seu amigo de longa data que, no passado dia 12 de novembro, celebrou 40 anos de ordenação. Antes de entrar no auditório da Paróquia de Santa Joana, Princesa, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa lembrava, aos jornalistas, precisamente a amizade que o une ao sacerdote. “Venho testemunhar 58 anos de amizade fraternal. E venho, como Presidente da República, agradecer uma carreira muito marcante quer na universidade, onde foi capelão, quer em movimentos juvenis, quer no lançamento do Comunhão e Libertação, que foram contributos importantes do ponto de vista cultural, educativo, pedagógico, social e cívico para a sociedade portuguesa”, recordou.
Na sessão onde foi apresentado o livro ‘Não sou dono da verdade, mas sou possuído por ela’, publicado pela Lucerna, o chefe de Estado lembrou que ele e o padre João viveram “décadas na casa um do outro”. Conheceram-se no Liceu Pedro Nunes e, desde então, até à saída da faculdade, viram-se todos os dias. “Vivemos em conjunto tudo o que Portugal viveu desde 1960 até praticamente 1974, dia a dia”, recordou o Presidente, na sua intervenção. “Tem uma inteligência excecional, é rapidíssimo, brilhantíssimo, com um coração riquíssimo”, elogiou.
Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu ainda “uma carreira muito marcante” do cónego João Seabra e anunciou a intenção de condecorar o sacerdote, no Palácio de Belém, “com a presença do Cardeal-Patriarca D. Manuel Clemente e dos Bispos Auxiliares”. “Quero ter o prazer de ver uma invasão de católicos no Palácio de Belém”, frisou o Presidente da República.
Uma personalidade marcante
O Cardeal-Patriarca conheceu o cónego João Seabra em 1973, e, no prefácio do livro ‘Não sou dono da verdade, mas sou possuído por ela’, caracteriza o sacerdote como “uma personalidade marcante”. No texto, D. Manuel Clemente lembrou que entraram “no seminário na mesma altura” e referiu-se “à marca sacerdotal” que o padre João imprimiu. “O seu modo ao mesmo tempo convicto e desempoeirado de estar como padre fosse onde fosse e com quem fosse; a sua sensibilidade e piedade; a disponibilidade para acolher ou procurar os colegas, convivendo, escutando e aconselhando – tudo isto nos marcou, marca e estimula. Foi e continua a ser determinante no percurso de muitas vocações sacerdotais, como também religiosas e laicais”, escreveu o Cardeal-Patriarca, no início da obra que assinala os 40 anos da ordenação sacerdotal do cónego João Seabra.
Paternidade na fé
José Maria Seabra Duque é sobrinho do padre João Seabra – sua mãe é irmã do sacerdote – e é um dos coordenadores do livro ‘Não sou dono da verdade, mas sou possuído por ela’, que reúne testemunhos de alguns amigos do padre João, entre os quais Marcelo Rebelo de Sousa, mas também Manuel Braga da Cruz, Dom Duarte de Bragança, João César das Neves, monsenhor Duarte da Cunha, Henrique Leitão, Aura Miguel, José Milhazes, Jaime Nogueira Pinto, Isilda Pegado, Pedro Santana Lopes ou Zita Seabra, entre outros. “No ano passado, lembrámo-nos de fazer algo para assinalar os 40 anos de sacerdócio do padre João para mostrar, por um lado, a nossa gratidão, e também para dar a conhecer a sua vida e obra. E a melhor forma de falar desta data era colocar a falar as pessoas com quem, de alguma maneira, ele se cruzou, e que, com o seu ministério, marcou as suas vidas”, explica José Maria, ao Jornal VOZ DA VERDADE, sublinhando que esta obra procura “dar a conhecer a obra do padre João, nos diversos âmbitos pastorais por onde passou”.
Sobre o seu tio, este jovem de 33 anos salienta que “uma das suas facetas mais interessantes é ser padre em tudo”. “É sempre padre. A sua relação é sempre marcada por esta paternidade de ser sacerdote, porque vive constantemente à procura de salvar as almas”, aponta, sublinhando que a sua “gratidão por esta paternidade na fé é total”.
A confissão é uma das marcas do padre João Seabra. Isso mesmo é recordado por José Maria Seabra Duque. “Na Jornada Mundial da Juventude de Colónia, em 2005, fomos um grupo de 50 jovens, com o movimento Comunhão e Libertação, e, durante as catequeses, o padre João encostava-se a uma parede e começava a confessar. E eram filas e filas e filas de jovens italianos a quererem confessar-se. Enquanto houver uma pessoa para confessar, tudo resto está em segundo lugar para o padre João, porque o mais importante é mesmo a pessoa que está ali”, garante, reforçando: “Sempre me impressionou nele que, estivesse o que estivesse a acontecer, perante as palavras de alguém a perguntar ‘Padre João, pode-me confessar?’, tudo parava, nem que fosse uma Missa que estivesse para começar com 300 pessoas”.
Amor a Cristo e à Igreja
António Maria Pinheiro Torres coordenou também o livro de homenagem ao cónego João Seabra, um sacerdote que conheceu em 1982, na primeira peregrinação a Fátima da Universidade Católica, tinha então 20 anos. “Foi no impacto com o padre João que me converti, no sentido de que comecei a querer estar na Igreja. Eu desejava ter uma vida que valesse a pena em todos os segundos e aquele homem falava da Igreja e de Cristo como a coisa mais apaixonante que um homem podia encontrar na sua vida”, recorda António, ao Jornal VOZ DA VERDADE.
Sobre ‘Não sou dono da verdade, mas sou possuído por ela’, este leigo sublinha ser uma obra “onde as pessoas falam da sua relação com Cristo e como a amizade com o padre João lhes proporcionou uma intensidade de relação com Deus”. “É um livro que faz bem à alma. Não é apenas uma coisa de amigos, a dizer que gostam muito dele, mas é sobretudo o testemunho do que é a ação de Jesus na vida de cada um”, refere.
São quase 40 os anos de amizade que unem António Pinheiro Torres ao cónego João Seabra. “Marca-me o amor que ele tem a Cristo e à Igreja, a intensidade da certeza que ele transmite e a forma como nos ajuda a verificar essa certeza. É uma paternidade que é a própria ternura de Jesus pela nossa vida, que se manifesta através da amizade dele”, testemunha.
Salvar as almas
Amigo de longa data, o cónego Armando Duarte assina o posfácio do livro de homenagem ao cónego João Seabra. “O João sempre foi mestre e eu discípulo, cada vez mais extasiado e agradecido pelo seu saber, pelo seu carisma, pelo seu inquebrantável amor à Igreja e «devoção» ao sacerdócio, praticada no amor, na solicitude e na ajuda a cada irmão sacerdote. Convivo, há quase 50 anos, com o mais brilhante, criativo e, certamente, dos mais zelosos padres que a Igreja de Lisboa gerou no pós-concílio. Por isso, não me canso de dar graças a Deus!”, escreve o sacerdote, destacando “a grande prioridade do padre João”: “Salvar as almas”. “Quanto a Igreja lhe deve! As peregrinações a pé de universitários a Fátima, as Equipas de Jovens de Nossa Senhora, os Cursos de Preparação para o Matrimónio, o São Tomás… Porém, mais importantes que a visibilidade dessa ação pastoral são as horas e horas de acompanhamento pessoal, na Confissão e na direção espiritual, contributo inestimável para a redescoberta do sacramento da Penitência”.
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Perfil
O cónego João Seabra nasceu em Lisboa, em 1949. Licenciou-se pela Faculdade de Direito de Lisboa e entrou para o Seminário dos Olivais em 1973. Fez a licenciatura em Teologia, na Universidade Católica Portuguesa, e a licenciatura em Direito Canónico, na Universidade de Salamanca. Foi ordenado sacerdote a 5 de novembro de 1978, pelo cardeal D. António Ribeiro, e celebrou Missa Nova no dia 12 de novembro desse ano, na Igreja de Santa Isabel, a sua paróquia.
Doutor em Direito Canónico pela Pontifícia Universidade Urbaniana, é cónego da Sé Patriarcal de Lisboa e diretor do Instituto Superior de Direito Canónico, da UCP. Foi capelão da Universidade Católica, pároco em Santos-o-Velho e na igreja de Nossa Senhora da Encarnação, no Chiado. Foi, ainda, defensor do vínculo do Patriarcado, assistente nacional do movimento Comunhão e Libertação e acompanhou as Equipas de Casais e de Jovens de Nossa Senhora. Foi fundador e é presidente da associação educativa que possuiu o Colégio de São Tomás, em Lisboa, e o Colégio São José do Ramalhão, em Sintra.
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“Dar-me todo à obra da Igreja”
O cónego João Seabra celebrou, a 12 de novembro, os 40 anos da sua Missa Nova. “A minha vida consistiu só nisto: dar-me todo à obra da Igreja”, referiu o sacerdote, de 69 anos, na homilia da celebração, na igreja de Santa Joana, Princesa, em Lisboa. Considerando-se “um servo da Verdade”, o cónego João Seabra sublinhou que “a Igreja não existe para si própria”. “A Igreja existe para que Cristo se possa encontrar com cada homem, para que cada homem se possa encontrar com Cristo. Existe para isso, e nada mais. A Igreja não existe para si própria. A Igreja existe para que o homem e Cristo possam caminhar juntos na vida de cada um. O caminho da Igreja é o coração do homem. E o caminho do homem é Cristo”, sublinhou. Para o cónego João Seabra, “a Igreja está construída sobre a misericórdia de Deus”. “Fui tratado com muita misericórdia por Deus e espero ter sido, ao longo da minha vida, ministro da sua misericórdia para muitos”, referiu. “Peço a Nosso Senhor que me guarde juízo. Mas sobretudo que me dê misericórdia, que me perdoe, que me permita recomeçar cada dia”, acrescentou.
Nesta celebração, onde participaram muitos amigos do padre João, incluindo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o sacerdote revelou ainda que a homilia da sua Missa Nova foi “a única” que escreveu nestes 40 anos de sacerdócio. “Meditei e rezei cada uma das palavras daquela homilia, e li-a com uma comoção e uma certeza, com uma gratidão e uma humildade profunda, de coração, diante de Deus”, recordou.
No final da Missa, o novo pároco de Santa Joana, Princesa, padre Duarte da Cunha – que tinha tomado posse na véspera –, agradeceu “ao padre João que honra, com a sua presença”, esta paróquia da cidade. “Queria testemunhar a minha alegria de agora podermos viver juntos”, salientou o sacerdote.
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“Gostar das pessoas é uma missão”
O padre João Seabra agradeceu “a todos os autores das histórias” publicadas no livro ‘Não sou dono da verdade, mas sou possuído por ela’, da Lucerna, que celebra os 40 anos da sua ordenação e reúne testemunhos de alguns dos seus amigos. “Deus deu-me a graça de gostar das pessoas. E deu-me a graça de perceber que essa graça era uma missão. Gostar das pessoas é uma missão. É uma missão para levar as pessoas a gostar d’Aquele que gosta de mim, para levar as pessoas a gostar de Cristo, para que O conheçam, O amem, O sigam e se deixem amar por Ele”, desejou o sacerdote, no lançamento da obra.
Foi uma apresentação que “juntou os amigos do padre João”. “Aqueles que se tornaram amigos de Jesus por causa do seu sacerdócio”, salientava, no início da sessão, o pároco de Santa Joana, Princesa, padre Duarte da Cunha. No auditório paroquial, após a Eucaristia, José Maria Seabra Duque, em nome dos coordenadores da obra, referiu que o livro, “com tantas histórias de graça e misericórdia”, é “fruto da paternidade do padre João”. Madalena Fontoura considerou que o livro “faz um percurso pela vida, para descobrir o padre João Seabra”, enquanto João César das Neves frisou que esta é uma obra “sobre uma pessoa fascinante”. “Este não é um livro de homenagem, conta histórias do padre João. São 72 histórias muito interessantes, curtinhas, divertidas, sentidas, comoventes”, observou. Por sua vez, o editor, Henrique Mota, da Princípia Editora, salientou que o padre João “sempre foi um testemunho da verdade”.
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