"A maior loucura que um homem pode fazer é deixar-se morrer"

POVO  26.04.2018

"Ai - respondeu Sancho, chorando - não morra vossa mercê, meu senhor, mas aceite o meu conselho e viva muitos anos, porque a maior loucura que um homem pode fazer é deixar-se morrer, sem mais nem aquelas, sem que ninguém o mate, sem que outras mãos o acabem além das da melancolia."

Miguel de Cervantes
in "D. Quichote de La Mancha"




Como na Quaresma, nos ajudou o sacrifício de Beltrame.
Agora o sacrifício de Alfie vem iluminar o 'debate' sobre a Eutanásia. 


"É um caso que abre interrogações a diversos níveis, todos muito complexos. (...) No desafio que esta história representa, quero no entanto centrar-me brevemente na reflexão sobre a ligação misteriosa que acontece entre os pais e um filho doente ou deficiente, realidade que encontrei muitas vezes na minha profissão.(...) quem duvida do valor destas vidas "difíceis" não são quase nunca as pessoas afetivamente mais próximas: são sobretudo os estranhos, pessoas que raciocinam em abstrato. Recomendo a leitura deste texto de Mariolina Ceriotti Migliarese - Neuropsiquiatra infantil


Há uns meses, falei num encontro no Hospital D. Estefânia sobre a nossa experiência de família com o desafio de um filho com doença crónica. "Fui-me apercebendo nestes anos que ser mãe afinal não é ir à frente, mas ir atrás. Não é decidir, mas constatar. A vida do Pedro começou a impressionar-me. Estávamos todos feridos, não feridos de morte, mas feridos de vida, da sua vida." Poderão ver aqui o VIDEO


E recupero um texto escrito já há 3 anos, "Aqui no 8o piso, encontram-se crianças doentes crónicas a lutar pela sua vida. Uma vida com limitações e dependências, no entanto as crianças continuam a lutar por ela, com um esforço inimaginável. Cá em cima a Comissão dos Doutores ainda não foi chamada a decidir. Os pais tão pouco. São as crianças que decidem, e enquanto tēm forças para lutar, decidem sempre pela vida. E isto edifica e esclarece os adultos." Ler o post

Por isso entre as notícias que vão chegando e que escandalizam; em pleno debate na abstração, só me ocorre dizer:

Obrigado Pedro
Obrigado Alfie.
Por nos tirarem da abstração.



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