3 Riscos a ter em conta para leitores da nova exortação apostólica.
Comecei a ler a nova Exortação Apostólica do Papa Francisco. Começar a ler o que quer que seja implica sempre uma posição perante o texto que temos diante que resulta numa maior ou menor disponibilidade para sermos mudados por ele, até surpreendidos.
Eu comecei a ler a nova Exortação Apostólica do Papa Francisco com o desejo de com ele me alegrar e exultar. Mas senti de imediato alguns riscos importantes a ter em conta e a manter em vigilância apertada ao longo dos 177 pontos deste documento. Resumo-o em três posições que me assaltaram e que aconselho a evitar.
1. O crítico Literário
Podemos pegar neste texto como um crítico literário. Não tanto a olhar para questões de sintaxe e semântica ou correção gramatical, mas de conteúdo. Podemos percorrer as linhas a tentar identificar e sublinhar os temas que melhor se candidatam a possíveis celeumas dentro e fora de grupos da Igreja Católica, que irão certamente causar escândalo nas próximas semanas, nos jornais e nas redes sociais.
Só a notícia de uma nova Exortação Apostólica pode trazer aquele sentimento misto de ansiedade e excitação, só de pensar o que poderá aí vir e como iremos preparar os nossos argumentos católicos nas discussões durante o tempo de café no trabalho. Ou como usar o texto para converter mais um amigo que está afastado da Igreja.
Como críticos literários estamos, inevitavelmente, sempre distantes da obra e pretendemos que ela tenha para os outros a importância que já não tem para nós que fazemos já parte dos convertidos.
2. O inspector da Santidade (dos outros)
O Papa Francisco descreve a certa altura no texto, de forma muito clara, o que são os sinais da santidade no mundo de hoje.
Como Inspectores da Santidade poderemos munir-nos dessa parametrização para começar as inspeccionar aqueles que nos rodeiam, a começar pelos mais próximos (pais, filhos, irmãos, marido e mulher). Iremos descobrir com interesse e moralismo, as qualidades de santidade que eles não têm (e deviam ter).
Da mesma forma, esta avaliação poderá até recair sobre o próprio que ou se martirizará pelas suas faltas, reduzindo a misericórdia de Deus à medida da sua própria em relação os outros. Ou de forma subjectiva, o inspector da própria Santidade terá acesso a vários episódios pessoais onde os parâmetros de santidade foram mais que evidentes, deixando nos recantos mais fundos da memória os momentos onde estes lhe faltaram, evitando assim a necessidade de correção.
3. O céptico
Podemos ler este texto como o mesmo cepticismo como ouvimos a homilia na missa de Domingo. Avaliamos cada ponto para estabelecer o nosso nível de concordância com a tese apresentada.
O objectivo não é alegrar-se e exultar em conjunto com o Papa perante o milagre e graça da santidade nesta terra, mas estabelecer a nossa opinião e posição.
Muitos cépticos quererão estabelecer a sua opinião para a escrever detalhadamente numa crónica semanal com aquele toque de originalidade que é tão importante para manter os seus leitores interessados e fieis.
Enquanto cépticos, vemos o problema religioso sempre mais complexo do que querem fazer parecer. Vêmo-lo com muitas dimensões havendo sempre uma ou outra que só o próprio céptico é capaz de ver. Achando por isso que tem o dever de a transmitir aos outros que, com uma visão mais limitada, aceitam seguir a palavra do seu pastor.
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