Joana Queiroz: "Quando vi as peças deu-me um baque no coração"
18.03.17 DN
Há dez anos, as Monjas de Belém fizeram-lhe um pedido que não pôde recusar. Abriu a loja Artes do Mosteiro, em Fátima, e a esta seguir-se-ia a de Lisboa. Joana dirige a única loja do mundo que não pertence à ordem monástica, mas que vende peças feitas pelos seus mosteiros de todo o mundo.
Há dez anos, as Monjas de Belém fizeram-lhe um pedido que não pôde recusar. Abriu a loja Artes do Mosteiro, em Fátima, e a esta seguir-se-ia a de Lisboa. Joana dirige a única loja do mundo que não pertence à ordem monástica, mas que vende peças feitas pelos seus mosteiros de todo o mundo.
Como conheceu as Monjas de Belém?
Eu queria mudar de emprego. Tinha um emprego por conta de outrem, como ainda hoje tenho num escritório. Uma amiga minha que também tinha o mesmo desejo, a Conceição Guerreiro, falou com a irmã prioresa, que disse: "Já sei o que é que vocês vão fazer. Nós precisamos de uma loja em Fátima." Ela veio ter comigo e eu disse: "Tu achas que eu já faço poucas coisas para a Igreja? Vamos lá ver [as peças], mas digo-te já que não vale a pena a insistência, porque eu quero procurar um negócio rentável." Na altura tinha 48 anos, agora tenho 58. Quando eu vi as peças deu-me um baque no coração. Pensei: "Estão a pedir-me isto a mim e eu estou a dizer que não? Não devo estar boa da cabeça."
Como é a margem de lucro que consegue com as peças?
As peças têm uma margem baixíssima, permitem manter a loja aberta. Somos a única loja no mundo inteiro em que há um esforço económico fora dos mosteiros. Há uma loja em Paris, uma em Lourdes e as lojas pequenas dos mosteiros.
Começou logo a vender peças de todo o mundo?
Comecei por ter as peças dos mosteiros que mais vendem, as peças de madeira e dolomite. Depois comecei a contactar os outros mosteiros. Há Saint Désert [em França], que faz livros, pagelas, postais e tudo isso, tem panos de seda impressos também, e esculturas de pedra porosa. Da Lituânia vem o âmbar, a marfinite é de Mougères [França], algumas medalhas de marfinite vêm da Argentina, Sigena [em Huesca, Espanha] faz loiça com desenhos e alguns ícones pequeninos... Depois, os irmãos de França que fazem a pele, as alfaias litúrgicas, o incenso, as sandálias. Em Israel também contacto um mosteiro de irmãos. Com a guerra - inclusivamente atiraram rockets aos muros das irmãs - vieram muitos irmãos para a Europa, por questões de segurança. Agora estou a comprar incenso a Grenoble, porque é dos irmãos que o faziam em Jerusalém. Mas com os irmãos foi mais difícil, porque atendem a horas muito específicas. A forma de comunicar é a tradicional. E depois, eu trabalho, é complicada para mim esta ligação.
Quem são os principais clientes da loja?
Católicos praticantes sobretudo, e padres do país inteiro: compram crucifixos grandes, Nossas Senhoras, presépios, agora na Páscoa círios... Tentamos que os padres percebam que ter esta arte sacra nas igrejas, que é feita a rezar, é uma coisa completamente distinta de ter uma coisa feita na China, ou nas Filipinas.
Já visitou vários mosteiros, de Israel a França. De um para o outro, sente-se a noção de família?
Sem dúvida. Entrar num mosteiro, qualquer que seja, e ver que as irmãs vivem uma clausura de alegria, de proximidade ao Senhor, e a maneira como nos recebem... Às vezes penso assim: porque é que eu com esta idade, que posso não viajar muitos mais anos, não quero ir para outros lados? Mas a minha vontade é mesmo de visitar os mosteiros.
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