Casamentos, Ana Margarida Craveiro, blogue Atlântico, 080328, http://atlantico.blogs.sapo.pt/

Casamentos

O casamento era, para o Estado, um compromisso legal e, para a Igreja, um sacramento. Criava deveres, como criava direitos. Mas, segundo Alberto Martins, parece que já não deve assentar na lei, seja ela qual for sempre coactiva. Deve assentar na consoladora liberdade do afecto. Ou, por outras palavras, deve passar de um contrato perpétuo a uma espécie de encontro temporário, logicamente revocável, se o afecto de qualquer das partes, por natureza etéreo e fugidio, deixar de existir. Vasco Pulido Valente
O segundo motivo deriva das declarações de Alberto Martins ao PÚBLICO e da ideia de que o casamento deve assentar nos afectos (o que ninguém contesta) e não nos deveres (o que é um absurdo). Na verdade, afectos e deveres devem conviver num casamento. Excluindo a noção de "dever" do contrato de casamento - o qual, recorde-se, ninguém é obrigado a celebrar, pois pode -se viver em união de facto -, só ficariam direitos, faltando porém saber se do marido, se da mulher. José Manuel Fernandes
Já não é tratar adultos como adolescentes, sujeitos a birras ocasionais. É a completa infantilização da sociedade, com a remoção de qualquer sentido de dever. O que interessa é a felicidade plena no aqui e agora, o carpe diem , de quem goza cada momento como se não houvesse depois. No seu pleno egoísmo, como uma criança de cinco anos, a quem tudo se dá (as consequências desse mimo excessivo não são relevantes). A entrega à emoção, ao gostar intensamente, porque o resto não interessa. As partes difíceis da vida são para ser removidas, numa sociedade de puro gozo. Afinal, não conseguimos já maquilhar a velhice e esconder a morte em locais não-visíveis , longe do nosso eterno presente de absolutos? Retiremos ainda a dor, o sofrimento, porque tudo é uma longa volta num carrossel, neste mundo lollipop .

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