Inundados pelo deserto
Inundados pelo deserto
António Rego
A tragédia americana de 11 de Setembro tem alguma novidade sobre as que a precederam: uma gama alargadíssima de facetas, de causas e consequências, que acabam por permitir milhares de leituras, contradições, revoltas e preces. À primeira vista tudo pode resultar da grandeza da América não é fácil encontrar um país que junte tantas paixões, ódios e diferenças mas também se pode olhar do lado das puras regras da narrativa de uma história: um caso onde o acontecimento é o resultado de uma cadeia de operações que abre um autêntico folhetim de perguntas, a lembrar uma telenovela que se vai alterando para manter bem viva a presença expectante de quem acompanha a história.
José Saramago, com a magia da sua palavra e a sua obsessão (anti?) religiosa, acha, em recente artigo, que as guerras do planeta se devem ao ³factor Deus² e que Ele, coitado, não teve, nem tem, a mais leve culpa de nada porque, simplesmente, não existe.
Mas não foi o factor Deus que provocou as vítimas dos Gulags, da Sibéria, do extermínio Nazi, de Auschwitz , Sachsenhousen, de Hiroshima, ou das guerras de petróleo e diamantes em África. Nenhuma destas tragédias, que se saiba, tem a ver com religião.
Mas há, isso sim, uma explosão do religioso na sequência da catástrofe americana: a multiplicidade ininterrupta de celebrações religiosas em todo o mundo, pelos vivos e pelos mortos, pelos agressores e pelos agredidos, em todos os credos, sem a mais leve mácula de ódio. Antes, um tempo de recolhimento pessoal, de encontros comunitários, de preces ecuménicas, partilhada por crentes e por laicos de todos os credos.
É que todo o ser humano se sente abalado, ou mesmo desamparado quando entregue apenas à sua fragilidade. É importante nestes momentos perguntar a Deus e ao homem pelo sentido da vida e pela condução da história. Desde aquele primeiro dia do Génesis que Deus nos entregou a responsabilidade por quanto se passa no mundo. Um pouco atordoados voltamo-nos para Ele a pedir-Lhe que nos empreste o seu olhar para o deserto que nos inunda.
António Rego 20010925 Agência Ecclesia
José Saramago, com a magia da sua palavra e a sua obsessão (anti?) religiosa, acha, em recente artigo, que as guerras do planeta se devem ao ³factor Deus² e que Ele, coitado, não teve, nem tem, a mais leve culpa de nada porque, simplesmente, não existe.
Mas não foi o factor Deus que provocou as vítimas dos Gulags, da Sibéria, do extermínio Nazi, de Auschwitz , Sachsenhousen, de Hiroshima, ou das guerras de petróleo e diamantes em África. Nenhuma destas tragédias, que se saiba, tem a ver com religião.
Mas há, isso sim, uma explosão do religioso na sequência da catástrofe americana: a multiplicidade ininterrupta de celebrações religiosas em todo o mundo, pelos vivos e pelos mortos, pelos agressores e pelos agredidos, em todos os credos, sem a mais leve mácula de ódio. Antes, um tempo de recolhimento pessoal, de encontros comunitários, de preces ecuménicas, partilhada por crentes e por laicos de todos os credos.
É que todo o ser humano se sente abalado, ou mesmo desamparado quando entregue apenas à sua fragilidade. É importante nestes momentos perguntar a Deus e ao homem pelo sentido da vida e pela condução da história. Desde aquele primeiro dia do Génesis que Deus nos entregou a responsabilidade por quanto se passa no mundo. Um pouco atordoados voltamo-nos para Ele a pedir-Lhe que nos empreste o seu olhar para o deserto que nos inunda.
António Rego 20010925 Agência Ecclesia
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