Doente na quaresma


Nunca olhei para a doença da mesma maneira desde aquele dia. 
É inevitável ficar-se doente de tempos em tempos. Algumas crises são piores que outras. Algumas são tão más que ficam na memória os sintomas, as dores, as aflições...
Mas eu nunca mais olhei para a doença da mesma maneira desde aquele dia. 
O dia em que vi um santo enfrentar os seus sintomas, as suas dores, as suas aflições.

Por isso agora quando fico doente, a primeira coisa que me lembro não são as dores e aflições, mas lembro-me daquele meu filho com 3 anos, a enfrentar as suas tão maiores. E olho para ele agora com 5 anos ainda com as dores da sua doença crónica, e tomo os meus remédios, como ele toma os que eu lhe dou e entrego-me aos dias da doença.

Esta quaresma andei desanimada, pouco satisfeita com a minha participação entre tanta distração de um mundo que não pára e do qual não quero sair. Mas esta última semana, quando uma amigdalite me atirou para a cama e deu-me uma semana de luta, recebi-a como a resposta à minha inquietação. Involuntarimente é certo, ali estava o deserto, o jejum, a sede, a febre, a dor que nem os remédios conseguem tirar imediata e completamente. 
 
Estendida na sala, o meu olhar vago de quem não consegue fazer um único raciocínio, cruza-se com o crucifixo que vive na nossa sala durante a Quaresma, e sorri. É que nunca mais olhei a doença da mesma maneira do que quando vi o meu filho viver a doença como participação perfeita da Cruz.

Sentir a sede, sentir a dor, sentir o abandono, era a experiência de quaresma que ansiava. 

Agora que já estou melhor, entro na semana santa com uma outra humildade, uma outra consciência e uma outra gratidão, pelo sacrifício que Cristo fez por mim. 



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