A IDEOLOGIA DO GÉNERO
Isilda Pegado
Voz da Verdade, 2011.10.16
1 – Confrontados com uma crise que parece não ter solução, importa verificar como vivemos e para onde caminhamos. Há como que uma anestesia em que somos embalados e a realidade perde a sua dimensão.
Esta ausência de realismo é hoje mais uma forma de privar o homem da liberdade. E tem um nome – Ideologia do Género.
2 – A ideologia do Género implica uma nova forma de conceber o ser humano e a sociedade. Defende que as diferenças entre homens e mulheres não dependem da natureza sexuada mas foram construídos culturalmente de forma artificial através da história e são a causa da descriminação que a mulher tem sofrido. Propõe-se libertar a mulher e através da eliminação da diferença de género.
3 – Parte de uma antropologia dualista que separa na pessoa a dimensão corporal da psicológica, argumentando que a pessoa é totalmente autónoma e pode construir-se como quiser, segundo o seu desejo. A vontade individual é uma força ilimitada.
É a última rebelião da criatura contra a sua condição como tal. Na verdade, o homem do ateísmo negou a Deus, que lhe podia dizer o que era o Bem e o que era o Mal. O homem do materialismo negou a sua natureza espiritual. Com a ideologia do Género o homem nega o seu corpo. Isto é o Homem julga-se Deus.
4 – Esta ideologia parece, à partida, fácil de rejeitar, mas ela tem uma forma muito subtil de entrar nas pessoas. Por um lado, usa uma forma de linguagem que é uma verdadeira engenharia verbal, onde a manipulação das palavras é o método. Usam-se palavras para significar coisas distintas do seu próprio significado (IVG em vez de aborto; saúde reprodutiva para falar de contracepção e aborto; amor intergeracional em vez de pedofilia ou redução embrionária para eliminar seres humanos na fase de embrião).
Esta engenharia verbal retira ao homem a sua capacidade de julgamento e de decisão livre. É o esvaziamento total das consciências.
Há duas maneiras de compelir as pessoas a agirem contra as próprias convicções e sobre as leis naturais. A primeira é o recurso à força. A segunda é a propaganda sistemática que utiliza a manipulação verbal como instrumento de acção por excelência.
Este tipo de propaganda procura incutir novas crenças nas suas vítimas. No momento em que estas novas atitudes são interiorizadas pelas pessoas, estas passam a acreditar que foi através da sua própria vontade que criaram esta nova forma de actuar, fazendo-a como sua.
A manipulação verbal corta a dignidade humana porque os indivíduos são objectos manobrados e dominados.
A verdadeira realidade é substituída por uma fictícia; a percepção é de facto dirigida a um objecto, mas agora trata-se de uma pseudo-realidade, de forma falsamente real, tornando-se quase impossível discernir a verdade. Ora, uma mentira que nega a verdade objectiva da realidade, opõe-se à característica fundamental do homem, que é a procura da verdade.
Esta manipulação da realidade baseia-se também no relativismo filosófico.
5 – Além disso, os meios de Comunicação Social, as escolas e a política legislativa vão a pouco e pouco introduzindo a Ideologia do Género. A lei molda e orienta comportamentos e a consciência colectiva muda facilmente. Facilmente se identifica o que é legal com o que é bom. Se olharmos para os países europeus que introduziram leis como o aborto livre, casamento entre pessoas do mesmo sexo ou divórcio a pedido, antes das leis serem aprovadas os casos existentes eram raros. Com a nova lei em vigor, rapidamente crescem os números do aborto, casamento gay ou divórcio.
6 – O objectivo dos defensores da Ideologia do Género é a destruição da sociedade, especialmente a partir de tudo o que está relacionado com a sexualidade, a Família e a Vida.
Por isso vemos as leis que banalizam de forma alarmante a identidade sexual. Basta invocar que psicologicamente me sinto diferente do corpo que tenho para logo de seguida poder mudar a minha identidade – mudo o nome de Maria para Manuel e passo a declarar-me homem ainda que fisionomicamente tenha aparência feminina.
7 – Por outro lado, a velha ideia de que para libertar a mulher é necessário acabar com a família e o casamento. Para acabar com uma instituição podemos usar duas formas – ou decretamos o seu fim (por lei) ou vamos equipará-la a realidades diferentes que a esvaziam de conteúdo. É esta a via seguida por aqueles que querem acabar com o casamento e com a família. Estes institutos deixam de ser realidades identificadas.
Por exemplo, podemos dizer que qualquer união pode ser considerada casamento (com 3 pessoas, pessoas e animais, etc., etc.).
8 – A Ideologia do Género defende a radical igualdade entre homem e mulher, e despreza a maternidade que é o mais específico do feminino. A maternidade é vista como algo negativo, algo que degrada e escraviza a mulher e que a impede de realizar-se plenamente.
Por isso defende que os cuidados a prestar aos filhos devem ser entregues a entidades públicas. Basta ver a institucionalização de crianças que cresce exponencialmente, negando-se às famílias os apoios que precisam para cuidar dos filhos. As Leis de Promoção e Protecção de Menores são disso um exemplo claro. Os mais pobres são os mais vulneráveis.
Mas também querem “libertar” a mulher da gravidez, por isso as técnicas da reprodução artificial são tão desejadas, assim como o uso massivo de anticonceptivos. E ainda o direito ao aborto livre chamando-lhe “direitos reprodutivos e sexuais”.
9 – A Ideologia do Género, difundida por grandes Organizações Mundiais, priva a razão humana de reconhecer o real e por isso tornou-se hoje a principal inimiga do homem, da mulher, da família e da sociedade. Rouba ao homem a liberdade porque o manipula ao apagar o real.
Para vencer esta crise do mundo ocidental é necessária uma razão aberta à linguagem do Ser e por isso capaz de conhecer a realidade.
Isilda Pegado
Presidente Federação Portuguesa pela Vida
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