O valor do mal

DESTAK | 26 | 10 | 2011   19.40H
João César das Neves | naohaalmocosgratis@ucp.pt
Esta crise, como todas, provoca muitas reacções. O pior tem sido a escassez de reacções positivas. Mais dramático que o sofrimento, são as pessoas que deixam a crise tomar conta da sua vida. Talvez por já sermos um país rico, desta vez há demasiada gente a levar a crise a sério. Ela é mais grave que as anteriores, não por estamos a perder mais, mas por ainda não terem começado as anedotas.
A raiva de tantos, o desespero e desânimo de outros, os «indignados» que enchem as nossas ruas, orgulhosos da sua indignação, todas essas atitudes são compreensíveis, até razoáveis. Mas todas assumem a situação como está, aceitando descer ao seu nível. Não a agarram como caminho e instrumento para algo melhor.
O importante na nossa existência não é o que nos acontece, mas o que fazemos com o que nos acontece. O que faz de nós seres humanos é a capacidade de nos elevar acima dos acontecimentos até ao sentido dos acontecimentos.
O que está em causa hoje é o valor do mal, um dos maiores mistérios da humanidade. Santo Agostinho explicou isto de forma cristalina ao dizer: «o Deus sumamente bom, de nenhum modo permitiria existir algum mal nas suas obras, se não fosse tão omnipotente e bom para até do mal tirar o bem» (Enchiridion xi). Goethe descreve o diabo como «uma parte daquele poder/que sempre quer o mal e sempre consegue o bem» (Faust I, iii, 1336-37). Mas talvez nos tempos que correm seja melhor invocar Steve Jobs, que sempre disse que o facto de ter sido expulso da Apple em 1985 foi a causa da melhor parte da sua obra.

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