As críticas
Inês Teotónio Pereira, i-online 9 Fev 2013
As crianças levam tudo a sério e são implacáveis. Por isso quando se diz "tu não consegues" qualquer coisa a uma criança normal ela baixa os braços
As crianças não funcionam com críticas. Não há qualquer hipótese de conseguir alguma coisa de uma criança criticando-a. Nada. Uma crítica funciona como uma pilha sem energia, é só peso. As crianças não distinguem a acção do agente, por isso qualquer crítica feita a uma criança é encarada como uma ofensa pessoal, uma espécie de insulto, uma humilhação. O verbo "fazer" e o verbo "ser" são a mesma coisa. Para as crianças quem rouba é ladrão; para nós, quem rouba pode estar ladrão, não quer dizer que seja realmente, está a passar uma fase, vá. Elas não se ofendem quando as criticamos, nem se atrevem; assumem que temos razão e não se preocupam nem um bocadinho com provar-nos o contrário. Se são os próprios pais a dizer, quem são elas para os desmentir?
As crianças levam tudo a sério e são implacáveis. Por isso, quando se diz "tu não consegues" qualquer coisa a uma qualquer criança normal ela baixa os braços e automaticamente assume-se como incapaz. Desiste. Aquela crítica, segundo a versão infantil, é um rótulo, uma característica, uma espécie de sinal de nascença, uma evidência. Uma crítica não é interpretada como uma consideração pontual sobre determinada acção. Nada disso, é mais profundo, é a referência a um traço da personalidade. Quando criticamos os nossos filhos por serem desarrumados, desajeitados, trapalhões, malcriados, preguiçosos e todas essas coisas motivadoras, eles passam a ser tudo isso. Assumem a condição com indiferença e sem orgulho. Não é uma coisa passageira, é um facto.
Nenhuma criança com dois dedos de testa deixa de ser malcriada só por a criticarem exactamente por ela ser malcriada. Isso nem sequer faz sentido. A reacção imediata é assumir o seu estado malcriado o melhor que sabe e pode. Sem disfarçar. Às claras. Sem preconceito. Sem medo. Arregaça as mangas e assume a má-criação como parte da sua maneira de ser.
Nós, pais, praticamos esta crítica intensiva com muita energia e o mais grave é que estamos convictos de que criticando estamos a educar os nossos filhos. Achamos, do fundo do coração, que se os picarmos eles reagem às críticas construtivamente. Como se pérolas como "Pára de ser chato!", "Não sejas preguiçoso e vai estudar!", "Só não tens melhores notas porque não estudas nada!" "És um mariquinhas, estás sempre a chorar", fizessem com que as crianças deixassem de ser preguiçosas, desarrumadas, estudiosas e valentes. O efeito é exactamente o contrário. A nossa convicção de que estamos no caminho certo com as críticas resulta de elas funcionarem com tudo o resto. Estamos habituados a criticar tudo o que mexe, do futebol à cultura, da cozinha à política, e as nossas críticas são sempre ouvidas – porque é que o mesmo não haveria de acontecer com as crianças? Mas não.
Dizia alguém que as crianças não precisam de críticas, mas sim de modelos. Os modelos servem de incentivo, são uma forma optimista e prática de revelar virtudes, comportamentos, carácter, etc. As críticas são a forma pessimista e teórica de mostrar o inverso. É educar pela negativa. As crianças por natureza imitam aquilo que vêem e parte daquilo que serão quando crescidas é porque imitaram ou imitam alguém. Já as críticas ficam gravadas apenas e só na auto-estima. São como pontapés na auto-estima.
As crianças levam tudo a sério e são implacáveis. Por isso quando se diz "tu não consegues" qualquer coisa a uma criança normal ela baixa os braços
As crianças não funcionam com críticas. Não há qualquer hipótese de conseguir alguma coisa de uma criança criticando-a. Nada. Uma crítica funciona como uma pilha sem energia, é só peso. As crianças não distinguem a acção do agente, por isso qualquer crítica feita a uma criança é encarada como uma ofensa pessoal, uma espécie de insulto, uma humilhação. O verbo "fazer" e o verbo "ser" são a mesma coisa. Para as crianças quem rouba é ladrão; para nós, quem rouba pode estar ladrão, não quer dizer que seja realmente, está a passar uma fase, vá. Elas não se ofendem quando as criticamos, nem se atrevem; assumem que temos razão e não se preocupam nem um bocadinho com provar-nos o contrário. Se são os próprios pais a dizer, quem são elas para os desmentir?
As crianças levam tudo a sério e são implacáveis. Por isso, quando se diz "tu não consegues" qualquer coisa a uma qualquer criança normal ela baixa os braços e automaticamente assume-se como incapaz. Desiste. Aquela crítica, segundo a versão infantil, é um rótulo, uma característica, uma espécie de sinal de nascença, uma evidência. Uma crítica não é interpretada como uma consideração pontual sobre determinada acção. Nada disso, é mais profundo, é a referência a um traço da personalidade. Quando criticamos os nossos filhos por serem desarrumados, desajeitados, trapalhões, malcriados, preguiçosos e todas essas coisas motivadoras, eles passam a ser tudo isso. Assumem a condição com indiferença e sem orgulho. Não é uma coisa passageira, é um facto.
Nenhuma criança com dois dedos de testa deixa de ser malcriada só por a criticarem exactamente por ela ser malcriada. Isso nem sequer faz sentido. A reacção imediata é assumir o seu estado malcriado o melhor que sabe e pode. Sem disfarçar. Às claras. Sem preconceito. Sem medo. Arregaça as mangas e assume a má-criação como parte da sua maneira de ser.
Nós, pais, praticamos esta crítica intensiva com muita energia e o mais grave é que estamos convictos de que criticando estamos a educar os nossos filhos. Achamos, do fundo do coração, que se os picarmos eles reagem às críticas construtivamente. Como se pérolas como "Pára de ser chato!", "Não sejas preguiçoso e vai estudar!", "Só não tens melhores notas porque não estudas nada!" "És um mariquinhas, estás sempre a chorar", fizessem com que as crianças deixassem de ser preguiçosas, desarrumadas, estudiosas e valentes. O efeito é exactamente o contrário. A nossa convicção de que estamos no caminho certo com as críticas resulta de elas funcionarem com tudo o resto. Estamos habituados a criticar tudo o que mexe, do futebol à cultura, da cozinha à política, e as nossas críticas são sempre ouvidas – porque é que o mesmo não haveria de acontecer com as crianças? Mas não.
Dizia alguém que as crianças não precisam de críticas, mas sim de modelos. Os modelos servem de incentivo, são uma forma optimista e prática de revelar virtudes, comportamentos, carácter, etc. As críticas são a forma pessimista e teórica de mostrar o inverso. É educar pela negativa. As crianças por natureza imitam aquilo que vêem e parte daquilo que serão quando crescidas é porque imitaram ou imitam alguém. Já as críticas ficam gravadas apenas e só na auto-estima. São como pontapés na auto-estima.
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