Paridade
Diário de Notícias, 20070818
João Miranda
investigador em biotecnologia
A paridade, isto é, a ideia de que as profissões mais apetecíveis devem ter igual percentagem de homens e mulheres, é uma das utopias das democracias modernas. A paridade não é entendida apenas como um resultado expectável da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, mas, sobretudo como um objectivo a atingir através de medidas políticas. A paridade tem levado, um pouco por todo o mundo, à criação de quotas na política, nos cargos dirigentes das empresas e nas universidades, mas não nos serviços de recolha de lixo ou na construção civil.
A paridade pressupõe que homens e mulheres têm, em média, as mesmas capacidades e as mesmas preferências. Mas a verdade é que as diferenças entre homens e mulheres são demasiado relevantes para serem ignoradas. Em média, as mulheres preferem trabalhar com pessoas, os homens com tecnologia, as mulheres são mais cautelosas, os homens gostam de correr riscos, os homens são melhores a matemática, as mulheres a línguas, as mulheres preferem empregos seguros no sector público, os homens estão mais dispostos a arriscar a sorte no sector privado. E, muito importante, as mulheres são mais ligadas aos filhos que os homens. Estas diferenças têm uma origem biológica e cultural. Mesmo que pequenas, as diferenças entre homens e mulheres são amplificadas por factores económicos. Um casal pode aumentar o seu rendimento e melhorar a sua qualidade de vida se cada um dos seus membros se especializar naquilo que sabe ou prefere fazer.
A biologia, a cultura e a economia sugerem que homens e mulheres têm competências e preferências diferentes que levam à especialização de papéis e impedem a paridade em várias profissões. Os tribunais tendem a reconhecer a especialização de homens e mulheres quando atribuem a guarda dos filhos preferencialmente à mãe e obrigam o pai a pagar uma pensão de alimentos. Os legisladores costumam enviar sinais contraditórios. Quando criam quotas nas várias profissões procuram defender a paridade. Mas quando alargam a duração das licenças de maternidade ou criam subsídios à natalidade contribuem para aprofundar a especialização. As licenças de maternidade/paternidade aprofundam a especialização mesmo quando podem ser partilhadas pelos membros do casal. Podendo escolher, os casais optarão por prejudicar a carreira de apenas um dos seus membros. Os subsídios à natalidade criam um incentivo para que um dos membros do casal abdique da carreira e se dedique exclusivamente aos filhos. Sabendo-se quais são as preferências típicas de homens e mulheres não é difícil prever qual será, na maior parte dos casos, o membro do casal a dedicar mais tempo aos filhos do que à carreira.
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