É como olhar no umbral do mistério da Ressurreição
Ciência confirma Igreja, segunda-feira, 8 de junho de 2015
“É como olhar no umbral do mistério da Ressurreição”,
diz a Prof.a Emanuela Marinelli que estuda o Santo Sudário há 38 anos
A professora Emanuela Marinelli estuda o Santo Sudário de Turim há 38 anos. Reproduzimos alguns excertos da entrevista sobre a matéria que ela concedeu à revista italiana Tempi.
Professora, como é a sua paixão pelo Sudário?
Emanuela Marinelli: Estudei o Sudário durante 38 anos, desde que vi pela TV uma reportagem do trabalho de Max Frei, diretor do laboratório científico da polícia de Zurique.
O Dr. Frei era botânico e havia descoberto no Santo Sudário grãos de pólen provenientes de planta desérticas que florescem em épocas diversas na Palestina, de plantas do leste da Turquia, das vizinhanças de Constantinopla, e ainda de outras espécies existentes na França e na Itália.
A descoberta confirmou a verossimilhança da migração do Sagrado Lençol em diversas etapas históricas.
Frei identificou 58 espécies diferentes, 38 das quais crescem em Jerusalém e não existem na Europa. Dessas 38, 17 são típicas e proliferam em Jerusalém e cercanias.
Isso prova a origem palestina do lençol.
Deve-se destacar a importância da presença no Santo Sudário do Zygophillum dumosum, que só cresce a partir de Jerusalém até o sul de Israel, bem como numa parte da Jordânia e no Sinai.
As análises de Frei foram confirmadas depois por outros botânicos. A palinóloga [da parte da Botânica que estuda os grãos de pólen] Márcia Boi analisou a lista dos pólens encontrados no Sudário por Frei.
Ela notou a presença das plantas mais usadas na destilação de caros bálsamos que eram empregados nos antigos ritos funerários do Oriente Médio.
Como eu me graduei em Ciências Naturais e Geológicas, percebi quão importantes são os pólens para identificar a proveniência de um objeto.
O meu interesse pelo Sudário começou com esta pesquisa.
Qual é o aspecto do Santo Sudário que lhe causa maior deslumbramento?
Emanuela Marinelli: Eu me interesso muito pelos microvestígios presentes no tecido. Na altura da ponta do nariz e do joelho esquerdo foram encontrados fragmentos de pó do chão. Isso confirma as quedas do Homem do Sudário ao longo da estrada.
Em outras amostras de material terroso tiradas do Sudário, na altura dos pés foi identificada aragonita com algumas impurezas; amostras recolhidas nas grutas de Jerusalém resultaram ter composições muito semelhantes, pois continham também aragonita com as mesmas impurezas.
Além do mais, foram identificadas no Sudário algumas partículas de aloés e de mirra, sobretudo nas zonas manchadas com sangue. Trata-se de substâncias perfumadas que se usavam em grande quantidade para a sepultura no ambiente judaico.
Também a datação do tecido apresenta campo para aprofundamento. Segundo os exames com o método do Carbono 14, o Sudário proviria da Idade Média, de um período entre 1260 e 1390 d. C.
Porém, vários cientistas opuseram numerosas objeções ao resultado desse teste, por julgarem insatisfatórios os procedimentos de colheita das amostras e a confiabilidade do método no caso de tecidos que atravessaram vicissitudes como as do Sudário.
Especialmente um remendo feito pelas freiras clarissas de Chambéry após o terrível incêndio que danificou gravemente o lençol em 1532.
Existem, contudo, outros testes para verificar a antiguidade de um tecido. Três novos exames, feitos em 2013 na Universidade de Pádua, datam o Sudário na época de Cristo.
Para a senhora, qual é a análise científica que fornece mais informações sobre o homem envolto naquele sudário?
Emanuela Marinelli: O sangue presente naquele Lenço é o aspecto mais comovedor. Ele nos narra as torturas sofridas pelo Homem do Sudário, as quais coincidem plenamente com as narrações evangélicas.
É sangue de uma pessoa fortemente traumatizada, que sofreu uma terrível flagelação com um flagrum romano, uma dolorosa coroação com um casco de espinhos, o exaustivo transporte do patibulum (a trave horizontal da Cruz), as trágicas caídas ao longo do percurso, o desgarramento produzido pelos pregos da crucifixão cravados nos pulsos e nos pés sem nenhum sustentáculo, o furo da lançada post-mortem.
Flagrum romano, açoite usado pelos algozes do Homem do Sudário
Dessa ferida saiu sangue parcialmente coagulado e soro por separado: o “sangue e a água” descritos por São João.
Com base no estudo do Sudário alguns médicos forenses deduziram que pouco antes da morte ainda fluía sangue das feridas e que o corpo foi envolto no lençol não muito depois de duas horas e meia após a morte.
Para obter um decalque do sangre sobre o pano, como se observa no Sudário, o corpo deve ter ficado em contato com o lençol por volta de 36-40 horas.
Nesse tempo a fibrinólise, que provoca a degradação dos coágulos, deve ter tido um papel importante.
Não há vestígios de putrefação. É inexplicável como o contato entre o corpo e o lençol possa ter se interrompido sem alterar os decalques que se haviam formado.
Não há riscos ou manchas que deveriam ter sido causados pela movimentação do cadáver.
Há muitos estudos e teorias sobre o Sudário. Em sua opinião, quais são as teorias mais extravagantes?
Emanuela Marinelli: Teorias extravagantes as há e várias, e infelizmente esses absurdos fascinam muito as pessoas desavisadas, que não se informam em fontes sérias.
Houve quem lançasse a hipótese de que a imagem presente foi provocada por um raio ou um terremoto.
Há também quem sustente que foi obra de um artista, acenando até com Leonardo da Vinci, sem sequer considerar a absoluta ausência de pigmentos pictóricos sobre o pano.
Além do fato de a existência do Sudário na França estar documentada cem anos antes do nascimento de Leonardo…
Inclusive é insustentável, à luz das análises feitas diretamente sobre a mortalha, o fabrico da imagem do Sudário com um baixo-relevo aquecido e carregado de pigmentos ácidos.
Há até quem sustente que o Homem do Sudário não morreu, mas só entrou em estado de coma e, portanto, que a ressurreição de Jesus teria sido uma simples cura.
Porém, nenhum defensor desta teoria jamais se apresentou para um experimento submetendo-o às torturas sofridas pelo Homem do Sudário, inclusive com a oferta de uma câmara de reanimação que, aliás, não existia na época de Cristo.
Na sua carreira, aconteceu-lhe de entrar em polêmica para defender a objetividade de suas descobertas?
Emanuela Marinelli: Polêmicas eu tive que fazer e muitas, nas minhas conferências ou na TV, porque sempre há quem ainda negue a existência de sangue humano sobre o Sudário!
Infelizmente há os que têm respeito humano do Sudário e queiram negá-lo a todo custo, para não se sentirem obrigados a uma mudança de vida, que é a consequência natural de uma autêntica conversão.
O Sudário foi estudado centímetro por centímetro, mas existem ainda mistérios não resolvidos?
Emanuela Marinelli: O mistério mais difícil de resolver é o da origem da imagem humana. É certo que a mortalha envolveu um cadáver. Mas é igualmente certo que aquele cadáver não chegou a apodrecer no lençol.
Além do mais, e este é um fato único e inexplicável, deixou impressa uma espécie de fotografia de si próprio.
A imagem resulta de uma desidratação e oxidação do pano, sem o contributo de outras substâncias. A imagem ficou impressa no Sudário de maneira extremamente superficial: penetra só 200 nanômetros nas fibras.
No transcurso das últimas décadas tentaram-se muitas vias para explicar a imagem do Sudário com suas características peculiares. De modo especial, a superficialidade da imagem e sua ausência sob as manchas de sangre privilegiaram a hipótese de que uma explosão de luz pudesse estar na origem.
Muitas provas experimentais foram feitas com esta finalidade, com vários tipos de laser, mas só ultimamente a utilização de poderosos excimer laser com pulsações de breve duração forneceram resultados interessantes.
De fato, com excimer laser que emitem na faixa ultravioleta, foi obtida uma coração amarelada compatível com as imagens do Sudário e com suas características.
Porém, jamais saberemos como é que um cadáver pôde formar uma imagem que só se pode explicar com uma explosão de luz…
Em sua opinião, em que consiste o fascínio do Sudário?
Emanuela Marinelli: Diante do Sudário tem-se a sensação de observar furtivamente através do umbral do mistério da Ressurreição de Cristo.O Sudário é o ícone da misericórdia de Deus, que entrega seu Filho pela salvação da humanidade. Aquele corpo torturado é a fotografia do amor doado, do pecado expiado, da salvação completada.
O Sudário antes e depois da Ressurreição. O corpo saiu sem desamarrar as faixas. Foto exposição 'O homem do Sudário', em Curitiba.
Ele nos tratou segundo sua misericórdia, segundo a grandeza de sua graça (Isaías 63,7). Aquele rosto tumefacto, mas sereno, garante a doçura do perdão. Não é possível ficar indiferente diante do sacrifício do Filho de Deus, testemunhado pelo Sudário com a linguagem cruenta de um documento ensangüentado.
“O maior Amor”, lema da ostensão do Sudário 2015, se refere diretamente às palavras de Jesus: “Ninguém tem um amor maior do que este: dar a vida pelos próprios amigos” (João 15,13).
O Senhor deixou a impronta indelével da sua misericórdia sobre um simples linho, frágil testemunha do evento que mudou a História.
Eis o sentido profundo do Sudário; eis, desvendado, o mistério do apelo a milhões de pessoas: o Sudário não deixa pessoas passivas, o Sudário engaja quem o observa num diálogo silencioso que muda o sentido da vida, mostrando a única força que vence a dor e a morte.
Diante do venerando Linho podemos repetir com mais força ainda as palavras da multissecular oração, bordada hoje sobre o tecido que envolve a teca do Sudário:
“Tuam Sindonem veneramur, Domine, et Tuam recolimus Passionem”, “Veneramos o Teu Sudário, ó Senhor, e meditamos na Tua Paixão”.
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