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A mostrar mensagens de setembro, 2002

Um livro esquecido

João César das Neves DN, 20020930 Uma das obras mais importantes da cultura ocidental está hoje praticamente esquecida. Além da volumosa perda civilizacional, o pior são as razões do desaparecimento, que manifestam uma grave desorientação do nosso tempo. Diz-se que a Legenda Aurea foi o livro mais lido no século XIV depois da Bíblia. Ele era, sem dúvida, imensamente popular e manteve--se assim nos séculos seguintes. O seu autor, Jacobo de Voragine (1230-1298), arcebispo de Génova beatificado em 1816, compilou as vidas dos santos do calendário romano de forma elegante, singela e sintética. Este conjunto de 182 pequenas histórias de santidade, do heróico ao humilde, do enternecedor ao empolgante, constitui sem qualquer dúvida uma sublime obra literária. Num tempo como o nosso, fascinado pela aventura, emoção e extraordinário, este livro parece feito à medida. Mais intenso que Indiana Jones, mais surpreendente que O Senhor dos Anéis, mais variado que Harry Potter, mais misterioso que as S

Combater a pobreza

João Carlos Espada Expresso, 2002.09.22 «O dever moral de auxiliar os que precisam exigirá sempre medidas directas de alívio do sofrimento humano susceptível de ser aliviado; simultaneamente, para que essas situações se tornem menos prementes e generalizadas no futuro, devem ser criadas condições favoráveis ao comércio, à iniciativa empresarial e ao Estado de Direito.» NO CONGRESSO da ACEGE (Associação Cristã de Empresários e Gestores) que desde ontem decorre em Lisboa, terei hoje o prazer de apresentar os resultados de uma investigação que foi solicitada por esta associação ao Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa. Durante um ano, dirigi uma equipa de investigação, com os mestres Hugo Chelo e Miguel Morgado, que procurou testar, isto é, confrontar com os factos, muitas das asserções hoje em voga sobre a riqueza e a pobreza no chamado mundo globalizado. O relatório final será hoje divulgado sob o título Riqueza e Pobreza (Cascais, Principia, 2002). Nele

Vida com "ketchup"

João César das Neves DN 20020916 Hoje, é difícil saborear a vida. A sociedade mergulha-nos numa torrente tão avassaladora de interpelações, seduções e tentações que perdemos de vista a simples vida comum. Habitar nas nossas cidades significa ser permanentemente solicitado, agarrado e percutido pelos gritos de notícias, cartazes, discursos, manchetes, anúncios, concursos, ofertas, oportunidades, etc., etc. Uma tal enxurrada de estímulos acaba por nos toldar a sensibilidade. A intensidade de informações e intimações que bombardeiam o homem contemporâneo é sem par na História. O frenesim da comunicação social, o fascínio da arte, o alvoroço da publicidade, o folclore da política, a omnipresença do divertimento, até a extravagância da moda constituem exigências permanentes sobre a nossa atenção a que não se consegue ser alheio. Quando é impossível realizar uma operação tão simples como comprar um sabonete sem suportar mensagens libidinosas, ou entrar num autocarro sem receber fascinantes