Uma oportunidade “para falar de Jesus”

VOZ DA VERDADE    15.12.2019


A comemorar a 20.ª edição, o Presépio na Cidade mantém o objetivo inicial: “Falar de Jesus, da Igreja, deste Deus que é um Deus de todos os tempos e que faz história connosco”. Ao Jornal VOZ DA VERDADE, a responsável do projeto, Sofia Nobre Guedes, lembra algumas das histórias que, devido a esta presença na cidade de Lisboa, mudaram vidas. “É a humanidade que vai passando por aqui”.

Podemos estar a falar no T0 mais valioso da cidade. Fica no Chiado, em pleno coração de Lisboa, e é “uma casa” com 9m2, onde cabem todos. “É a humanidade que vai passando por aqui”, descreve Sofia Nobre Guedes, fundadora e responsável pela iniciativa Presépio na Cidade, que este ano assinala as 20 edições. Ao Jornal VOZ DA VERDADE, Sofia conta como a presença deste presépio, na muito movimentada Rua Garrett, não tem passado despercebido. “As pessoas ficam surpreendidas com este presépio e, mais recentemente, com a figura do Papa Francisco e dos Pastorinhos de Fátima”, junto às outras figuras. “Vivemos numa época em que muitas pessoas não sabem muito bem o que esta representação significa”, lamenta Sofia, garantindo que esta iniciativa é uma oportunidade que “permite falar de Jesus, da Igreja, deste Deus que é um Deus de todos os tempos e que faz história connosco”.

A beleza de Jesus
Juntamente com Sofia, existe um “núcleo duro” de seis voluntárias que não se intimida ao abordar quem passa, independente da idade, do idioma, da sua aparência, mesmo que seja apenas para pedir um isqueiro para acender as velas no presépio – como aconteceu durante esta entrevista. “Aqui, todas as pessoas ajudam”, realça Sofia. A esta equipa “multiplicam-se” os amigos que cada uma traz e também aqueles que se vão “ganhando” e que passam a apoiar a iniciativa. “Este ano, uma das voluntárias, a Conceição Graça, estava cheia de trabalho e não sabia o que fazer porque temos que fazer muitas figuras para fazer e oferecer a quem passa. Então, chamou duas pessoas em situação de sem-abrigo e convidou-as a entrarem no escritório dela, a aquecerem-se, e começaram a trabalhar. Há 15 dias que não fazem outra coisa! E as lembranças que elas estão a fazer, nós vamos entregar numa prisão. Há aqui todo um elo, uma rede, que, aparentemente, é muito frágil, mas é fortíssima e faz com que isto aconteça. Esta é que é a beleza de Jesus! É quando nós conseguimos perceber que na fragilidade está a sua fortaleza e a sua riqueza”, testemunha a responsável do projeto.

Prisões que se unem
Nestas 20 edições, não faltam a Sofia histórias para contar. Existem até “histórias de conversões, de milagres, de pessoas que transformaram as suas vidas, inclusivamente de pessoas na situação de sem-abrigo que deixaram a rua, mas também de pessoas que choraram muito porque, junto ao presépio, se lembraram de Deus. Aqui, vive-se a alegria do serviço”, sublinha. Porque é impossível contar todas as histórias, Sofia Guedes começa por destacar, ao Jornal VOZ DA VERDADE, a história de um sem-abrigo que esteve 28 anos na rua e que, “devido ao presépio – como ele próprio diz”, já está, há 9 anos sem dormir na rua. Hoje, é religioso Carmelita, da Ordem Terceira. Mas também existem casos em que as “fragilidades” se tornaram vida. “Uma doente, tetraplégica, esteve 13 anos numa cama. Como nem podia ter roupa em cima dela, tinha uma espécie de ‘gaiola’. Na primeira vez que a visitei, perguntou-me se eu ia lá por causa ‘de Cristo na cruz, que morreu de pés e mãos atados e que não serviu para nada’. Eu disse-lhe: ‘De facto, eu venho por Ele, mas, se quiser, eu não falo d’Ele’. Durante três anos, até ela morrer, visitei-a todas as terças-feiras, muito movida pelo presépio”, conta. “Nesse período, a doente apareceu num programa de televisão, a partir do hospital. Houve um preso de uma cadeia de alta segurança que ouviu a história dela e criaram uma relação de amizade. Eu era a intermediária das cartas. Assisti a duas prisões que se foram unindo por este amor de Jesus. Ela acabou convertida, antes de morrer”, assegura Sofia Guedes. “Quando nós paramos, as coisas aproximam-se. E, num tempo em que é tudo uma correria e em que o tempo parece que não é tempo, parar é usar esse tempo e fazê-lo render de uma forma muito bonita”, conta esta leiga, de 63 anos.

Objetivo: evangelizar
O objetivo da criação do Presépio na Cidade, no ano 2000, ainda se mantém atual e “cada vez mais claro”. Diariamente, entre os dias 8 e 23 de dezembro, das 14h00 às 19h00, “vamos mostrando que somos pessoas pacíficas, que estamos aqui para escutar, para dar”. “A finalidade é evangelizar e lembrar que o Natal é celebrar o nascimento de Jesus numa família humana, fazendo-se um de nós”, define.
Tudo começou no Ano do Jubileu, há 19 anos, quando uma amiga de Sofia Guedes lhe perguntou: ‘Porque não fazemos uma escultura do presépio na cidade de Lisboa?’, colmatando assim a “falta de algo que falasse do nascimento de Jesus”. Sofia não hesitou em pôr as mãos à obra. “Eu e mais um grupo de amigas começámos à procura e conseguimos que a escultora Clara Meneres fizesse uma escultura fantástica e bonita que ficasse no meio da Alameda D. Afonso Henriques”, conta. Ali estiveram durante três anos. “A obra era incrivelmente grande – obrigando a uma obra de engenharia –, muito luminosa, mas foi ‘fácil’ conseguir os apoios da Câmara Municipal de Lisboa, do seu presidente, João Soares, e de muitos outros amigos”, acrescenta. Com as obras previstas para aquele espaço, a organização mudou-se para o Terreiro do Paço, em 2005, ano em que Lisboa organizou o ICNE (Congresso Internacional para a Nova Evangelização). Passaram dois anos até mudarem para a nova zona do Parque das Nações, em Lisboa. “Era uma cidade nova, a crescer, muito organizada, mas muito pouco evangelizada e ainda sem igreja. E nós, junto ao atual Altice Arena, montámos uma barraquinha com um presépio”, lembra Sofia Guedes. Mais tarde, o grupo que organiza o Presépio na Cidade decidiu encomendar novas figuras a uma escultora. A duas semanas da montagem, a doença da artista fez com que a responsável pelo Presépio na Cidade tenha posto em prática o gosto que tem pela pintura e pela carpintaria. Até hoje, as figuras principais e as que vão sendo acrescentadas, tal como o Papa Francisco e os Pastorinhos de Fátima, são da autoria de Sofia Guedes.

Descanso
Atualmente, junto à Basílica dos Mártires, em pleno Chiado, “há sempre que fazer” na “casa” com 9m2, mas também “muito para descansar e para falar”. “Aqui, encontrámos este lugar. Por aqui, temos Jesus em cada esquina, nestas igrejas maravilhosas de Lisboa. Estamos muito aconchegados, nesse sentido, mas é obvio que estar na rua, da forma como nós estamos, chama a atenção – embora esta seja uma luz terna e suave no meio da cidade – e tem um impacto que nos transcende”, assegura Sofia.
Para cima e para baixo, em frente do presépio, passa, várias vezes, Joaquim – como pretende se tratado. Acena às voluntárias com o terço que tem sempre no bolso. “Trago o terço todos os dias e a toda a hora. É para andar sempre com Deus”, revela Joaquim, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Em saída
O Presépio na Cidade também é sinal de Igreja em saída, “dando a conhecer Jesus a quem O espera”, em hospitais e prisões, por exemplo. “Como não podem sair, nem para vir ao presépio, vamos nós até lá. E vamos sempre com uma palavra de esperança. Se vamos à Maternidade Alfredo da Costa, vamos pedir às mães que nunca se esqueçam de ensinar aos seus filhos quem é Jesus. Quando vamos aos hospitais, vamos dar uma palavra de consolo, nos lares a mesma coisa. Nada de muito complicado”, descreve Sofia Guedes.
Todos os dias, às 18h30, o grupo reúne-se para rezar e convidar a rezar o terço. “Muitas pessoas param e rezam uma Avé-Maria, outras vão-se embora, outras ficam caladas. Desde 2017, por ocasião do centenário das Aparições, convidamos as pessoas, que quiserem, a rezar, pelo menos, uma Avé-Maria. Deixam o seu nome e intenção e, depois, fazemos dezenas, cosemo-las umas às outras e vamos entregá-las em Fátima. No ano passado, entregámos cerca de 1500! Isto tem um significado muito forte. É uma coisa que nos transcende completamente”, conclui Sofia Guedes, afirmando-se satisfeita quanto ao futuro do Presépio na Cidade: “Isto é d’Ele. Ele é que sabe como vai querer continuar”.

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Tema procura transmitir “esperança e confiança”
“Neste ano, pensámos que o mundo precisaria de esperança e confiança e descobrimos esta passagem, que está em Jo 16, 33: ‘No mundo tereis muitas tribulações, mas tende confiança: Eu venci o mundo’. Por isso, num dos lados dos símbolos que vão ser entregues em prisões, hospitais e lares, representámos a cruz, com o Sagrado Coração de Jesus, significando o triunfo sobre o mundo. Do outro lado, pensámos no Menino Jesus. Por isso, as palhinhas e a cruz são as formas como Jesus veio e partiu do mundo. Foi assim que Ele triunfou. Achámos que seria muito atual esta ideia”, aponta Sofia Guedes.


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Bênção das Grávidas
A Bênção das Grávidas, “um dos momentos altos do Presépio na Cidade”, vai decorrer no dia 21 de dezembro, sábado, às 16h15, na Basílica dos Mártires, e é, este ano, presidida por D. Américo Aguiar, Bispo Auxiliar de Lisboa.

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Teresa Neto, Leonor Ameal e Sofia Nobre Guedes (da esquerda para a direita) são voluntárias do Presépio na Cidade. “Não queríamos que as pessoas passassem por aqui indiferentes. É muito impressionante ver a diferença que há nestes últimos anos, com gente que chega ao pé do Presépio e não sabe o que são aquelas figuras, o que quer dizer. O mundo está com muita pressa”, salienta Leonor Ameal. Joaquim (à direita) passa diariamente na Rua Garrett e faz questão de mostrar o terço que transporta quando passa pelo presépio.

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Fátima Ferreira

Comerciante
“Já aqui estou, nesta rua, há 50 anos. Eu acho que o Presépio dá vida ao Chiado e é bonito. As pessoas gostam muito, acham muita graça à imagem de Nossa Senhora que está de bebé.”

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