Jesus Cristo Nasceu Há Dois Mil Anos. Parabéns!
MÁRIO PINTO
Público, Segunda-feira, 18 de Dezembro de 2000
Comemoramos, este ano, dois mil anos do nascimento de Jesus Cristo. É costume fazer uma festa maior nos aniversários em que se completam décadas, ou séculos. Por maioria de razão nos milénios. Este Natal é, portanto, uma festa ainda mais celebrada.
Muitos milhões de homens crêem que Jesus Cristo ressuscitou e está vivo. Mas até mesmo aqueles que não têm esta fé reconhecem a beleza e a bondade da boa-nova que ele proclamou, isto é, do seu evangelho. Também estes podem celebrar justamente o Natal.
Jesus Cristo mudou o mundo. O calendário cristão é apenas um simples reconhecimento disso. A verdadeira revolução está na palavra e na promessa que nos deixou. Quatro homens escreveram os evangelhos de Jesus Cristo: Mateus, Marcos, Lucas e João. E o que escreveram os quatro cabe num pequeno (grande) livro de cento e cincoenta páginas. Que um tão pequeno livro tenha uma tão grande força, leva-nos a perceber que há uma força da Palavra para além das palavras.
Não se sabe ao certo como Jesus viveu até cerca dos seus trinta anos. Não consta que tivesse estudado a filosofia grega; nem as sabedorias orientais. Sugerem os Evangelhos que apareceu, a certa altura, como um desconhecido, sem nada que o distinguisse aparentemente de um homem comum. Havia então um profeta radical, João Baptista, que vivia no deserto e pregava a necessidade de uma séria mudança de vida. Ao vê-lo, reconheceu Jesus como superior a ele. Mas Jesus insistiu em ser baptizado. Desde então, começou a pregar, com autoridade, e provocava grande espanto. Vivia como um homem pobre, de terra em terra, pregando nas ruas e praças, mas também nos templos. Jesus convidou uns pescadores ignorantes para o acompanharem; e eles deixaram tudo e seguiram-no. Pregou cerca de três anos. E no fim deste curto tempo foi morto por alegados crimes cometidos contra Deus e o povo.
Disse e fez coisas verdadeiramente espantosas, nunca dantes ouvidas e vistas. E que ainda hoje são insuperáveis: ninguém, algum dia, disse e fez coisas sequer comparáveis. Pregou e viveu a paz e a não violência activa (dar a outra face); o amor de compaixão para com todos, mas com predilecção pelos pobres; a misericórdia para com os doentes (aleijados, leprosos, cegos...), e para com os mais desgraçados (por exemplo, uma prostituta); o acolhimento dos administradores exploradores e corruptos do tempo (como Zaqueu), que se arrependem de ser corruptos e resolvem dar os seus bens aos pobres; igualmente o acolhimento dos mestres de Israel - que o vão consultar pela calada da noite e depois ficam seus discípulos, mas só clandestinamente (como Nicodemos).
Não se conhece mais belo ensinamento sobre o reino espiritual do que no Sermão da Montanha. A radicalidade da verdade, da pobreza, da humildade, da pureza de coração, do serviço, da misericórdia, da fraternidade. Gandhi disse um dia que ainda mesmo que alguma vez fosse negada a historicidade da pessoa de Jesus, o Sermão da Montanha permaneceria atestando a sua veracidade.
Nenhum outro livro é tão cheio de sabedoria, milagre e mistério, como aquele que relata a vida e os ensinamentos de Jesus Cristo: o Novo Testamento. Todo aquele que o ler e meditar encontrará o melhor que se pode encontrar num livro. Isto é: uma resposta para o mistério da vida; para a necessidade de nos sentirmos amados, iluminados, curados e salvos, na vida e na morte.
Jesus Cristo identificou-se expressamente com cada homem pobre e fraco, com cada pequenino. Disse: tudo o quer fizerdes a um destes pequeninos, a mim o fareis. Esta identificação, contudo, ficou aberta a todos e opera contra qualquer desigualdade - escreveu S. Paulo aos cristãos gálatas: não há judeu nem grego; não há escravo nem homem livre; não há homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo.
Quer então uma sugestão, leitor benévolo, no meio de tantas outras que lhe são constantemente dirigidas? Ofereça uma prenda de aniversário a Jesus Cristo. Mas não a entregue apenas aos seus familiares e amigos; destine alguma coisa para um destes pequeninos que há por aí. São muitos e de muitas espécies: pequenos de bens (os pobres); pequenos de saúde (os doentes); pequenos de liberdade (por exemplo os presos); pequenos de paz (tantos e tantos atribulados, física e moralmente); pequenos de solidariedade e comunhão (sobretudo os excluídos). E ainda há outros.
E se quiser oferecer livros, não se esqueça de considerar o mais lido de todos os livros do mundo, aquele que se deve escolher para a ilha deserta, porque nunca deixa uma alma na solidão: os Evangelhos de Jesus Cristo.
Feliz Natal!
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