Maria José Nogueira Pinto | DN 2007.11.11 Com o fim das grandes escatologias, das perspectivas colectivas de um final feliz, religiosas ou científicas, como foi o caso do marxismo, os seres humanos viraram-se para um individualismo feroz, projectos próprios de felicidade e de futuro, despidos de transcendência, valores ou referências. Numa cultura caracterizada pelo valor máximo do sucesso pessoal, da beleza e da perfeição, o sofrimento e a morte, a percepção do outro e a referência da dignidade humana foram-se perdendo. Dizia-se que começávamos a morrer no dia em que nascíamos. Hoje, esta afirmação parece uma indelicadeza desnecessária. O mito dos recursos inesgotáveis da ciência e da tecnologia criou a convicção de ser possível eliminar todo o sofrimento e adiar indefinidamente a morte. Estas expectativas esbarram inevitavelmente com aquilo que é e será sempre a condição humana: uma condição forte e fraca, gloriosa e pungente, perfeita e imperfeita