Memórias do Vaticano II
Por JOÃO BÉNARD DA COSTA
Sexta-feira, 11 de Outubro de 2002
É bom que, ao escolher-se um tema que muito vivemos, lhe comecemos por tirar os espinhos antes de o transformar em imagem e em memória. Foi o que fiz. No Vaticano II, o vernáculo é o meu espinho e a minha espinha. Por isso o esconjurei ao principiar
1. No último dos seus romances - "A Alma dos Ricos", segundo tomo de "O Princípio da Incerteza" - Agustina Bessa Luís escreve a páginas tantas: "O que não entendemos é objecto de culto. Quando a Igreja Cristã tirou o latim da missa, perdeu muito da sua sacralidade."
Eis uma afirmação que plenamente subscrevo e há muitos anos sustento. Ainda nada sabia de latim, já ajudava às missas de monsenhor Porfírio da Cruz Quintella, prior da Golegã, na capela da casa do dr. Bustorff Silva, na Arrábida. A talha dourada da capela diziam-na recuperada ou desviada da nau "Portugal" da Exposição de 1940. O monsenhor trocava a Golegã pela Arrábida nos meses estivais. O reumático apoquentava-o e andava apoiado em muletas. "Olha, o monsenhor a remos", disse o Vasco Santana, que o conhecia de miúdo e do Ribatejo e já não o via há eternidades. Aos fins de tarde, o bom do velho, que não tinha acólitos nas redondezas, ensinou alguns miúdos de casas próximas a ajudar a missa. Os estranhos rituais das abluções eram-me tão misteriosos como essa língua, com que, logo de entrada, eu respondia ao "Introibo ad altare Dei" do sacerdote com o "Ad Deum, qui laetificat juventutem meam". E Alguém ou Algo me alegrava de facto, nesse latim que primeiro me ensinaram a pronunciar (com as acentuações eclesiais) e só depois me ensinaram a traduzir, pelos meus 8-9 anos. E em latim respondi aos oficiantes - em Portugal e no mundo - desde essa idade até aos 30, quando o vernáculo substituiu o alfabeto dos segredos.
Li já não sei onde que a "revolução litúrgica" se teria inspirado numa frase de João XXIII: "Quando penso nas belas orações que disse e vós não compreendeis..." Com a devida vénia, neste caso acompanhada por tudo quanto significou e significa para mim o "bom Papa João", neste caso não o sigo. É o que não compreendemos que é o mais belo e transcendente. Quando tudo se passou a entender (se é que se entende), o mistério desapareceu. E desapareceu a "catolicidade", que me fazia ouvir as mesmas palavras no Japão e na Patagónia, na Sibéria e na Nova Zelândia. "Ad utilitatem quoque nostram totiusque Ecclesiae suae sanctae" Não perceberam? Ainda bem.
2. A constituição sobre a liturgia, que substituiu o latim pelas "línguas vivas", autorizou a concelebração, permitiu a comunhão sob duas espécies, reformou o missal e o breviário, bem como o ritual dos sacramentos (entre muitas outras reformas menores, como, por exemplo, a abolição da missa "pro petitione lacrimarum", a que fiz referência na minha última crónica), foi promulgado no fim da segunda sessão do Concílio Vaticano II, em Dezembro de 1963. O texto foi votado 78 vezes e aprovado, finalmente, com 2147 votos a favor e 4 contra. Ao que parece, os bispos acharam que se acabava com "um isolamento sem sentido", que não tinha razões bíblicas mas apenas históricas. Mas não serão históricas todas as razões incluindo as bíblicas? Por mim, falo. Nunca mais "senti" na missa o que nela sentia antes do concílio e não creio que isso se deva, apenas, às minhas crises de fé, de esperança e de caridade. Como recordou Ficino, quinhentos anos antes do concílio, "não era sem razão que os antigos colocavam uma esfinge, pintada ou esculpida, sobre as portas dos templos. Mostrando essa imagem, demonstravam que das coisas de Deus não se deve falar publicamente, a não ser por enigmas."
3. É bom que, ao escolher-se um tema que muito vivemos, lhe comecemos por tirar os espinhos antes de o transformar em imagem e em memória. Foi o que fiz. No Vaticano II, o vernáculo é o meu espinho e a minha espinha. Por isso o esconjurei ao principiar.
Posso agora dizer, como é verdadeiramente digno e salutar, que se comemora hoje - 11 de Outubro de 2002 - o 40º aniversário do início dos trabalhos conciliares, em Roma, a 11 de Outubro de 1962.
Outro dia perguntaram-me se eu me lembrava do que fiz nesse dia. Não me lembro. Mas lembro-me muito bem que estava em casa da Maria Leonor e do Nuno Bragança, quando, à hora do jantar, o Nuno chegou a casa a dizer que o Papa tinha anunciado, em São Paulo-Fora-de-Muros a 18 cardeais, a sua intenção de convocar um concílio. Foi a 25 de Janeiro de 1959, cinco meses menos um dia antes do nascimento do meu filho mais velho.
O Papa era João XXIII, eleito a 28 de Outubro de 1958, aos 77 anos. Quando se soube dessa eleição, o mesmo Nuno - sempre o mesmo Nuno - comentou comigo que o Espírito Santo talvez se tivesse distraído um bocadinho. Depois do longo pontificado de Pio XII (1939-1958) dizia-se que a Igreja precisava de um "papa de transição", que não reinasse muito. Um papa que não fizesse ondas. Será que havia esse tempo a perder, perguntava-me e perguntava-se o Nuno. Mas a homilia de coroação já foi uma surpresa. Ao assumir-se como bispo de Roma, "irmão de todos os bispos do universo", retirando a primazia à chefia da Igreja universal, tão proclamada por Pio XII, João XXIII espantou pela vez primeira (ou pela segunda, já que a escolha do nome também deixara muitos perplexos, pois que joões papas os não havia desde o século XIV).
Mas a 25 de Janeiro de 1959 aconteceu muito mais. Um concílio? Ninguém pensava nisso. E muito menos num concílio para aproximar a Igreja do mundo então contemporâneo. Daí o nosso entusiasmo nesse dia. Algo ia mudar. Uma nova era. Um concílio - o 22º da história da Igreja - ia fazer parte da nossa história, quase cem anos depois do Vaticano I, que não era santo do nosso altar.
4. Reforma da Igreja como povo de Deus. Diálogo com os outros cristãos. Diálogo com o mundo. Durante os trabalhos pré-conciliares, estes foram os três grandes vectores de orientação do pensamento de João XXIII. Marcaram igualmente a primeira sessão conciliar (Outubro a Dezembro de 1962), a sessão que "tomou o pulso à Igreja". Depois, foi a "Pacem in Terris". Depois, a morte de João XXIII (3 de Junho de 1963, aos 81 anos, cinco anos incompletos de pontificado). Mas quem viveu esses anos, por exemplo em Portugal, recorda um clima como nunca mais se viveu na Igreja. Aqui, a política deu-lhe um tempero especial. O reinado de João XXIII coincidiu com o exílio do bispo do Porto, com as primeiras manifestações de católicos contra o regime, com o "Santa Maria", com o fim da Índia portuguesa e com o começo da guerra de África, com os movimentos estudantis, com os livros da Morais, com o aparecimento da "Pragma" e de "O Tempo e o Modo". A propósito de tudo, discussões frementes e veementes. O baluarte católico era o primeiro dos bastiões do salazarismo a mostrar rombos. A "Seara Nova", revista marxista, publicava o retrato do Papa na primeira página, coisa inimaginável nos quarenta anos de vida da revista. Em meios muito conservadores, rosnava-se que já tinha havido outro João XXIII, anti-Papa. Quem se seguiria?
Quanto rezámos para que o sucessor fosse esse cardeal Montini que já tínhamos sonhado ver suceder a Pio XII. E foi Paulo VI. No dia a seguir à eleição, visitei Mário Dionísio, então meu colega como professor no Camões, que estava hospitalizado. Marxista dos quatro costados, militantemente agnóstico, saudou-me com um largo aceno: "Vocês agora têm um Papa a valer." Sorri-lhe, orgulhoso.
Mas cedo começaram algumas reticências sobre o novo Papa. "Forma Pacelli, fundo Roncalli", dizia-se. Quando saiu a "Ecclesiam Suam", primeira encíclica de Paulo VI, escrevi em "O Tempo e o Modo" um artigo que procurava desesperadamente provar (ou "poeticamente" provar, como me acusava, de Roma e da Capela Sinistra, o Manuel Lucena, que me recordava que o mais poético nem sempre é o mais verdadeiro) que Paulo VI evoluía na continuidade do seu predecessor.
Foi mais difícil sustentá-lo na 3ª sessão (14 de Setembro a 21 de Novembro de 1964) e na 4ª (28 de Setembro a 8 de Dezembro de 1965). Em 1964, no mesmo "O Tempo e o Modo" um certo Manuel Frade já via nos textos conciliares "muito mais da multissecular sabedoria da Igreja do que daquele pouco da 'loucura de Deus' de que todos os homens têm fome". E acrescentou: "O milagre não se deu."
Mas, se institucionalmente se não deu (e dos milagres aos cismas, vai às vezes um passo, como recordou outro padre conciliar), para mim esses anos - anos da Concilium, que a Helena Vaz da Silva espalhou por Portugal e pelo Brasil - foram anos milagrosos.
Quem me tirasse esses anos não me tirava tudo, mas tirava-me muito. Como escreveu José Bergamín, esses foram anos em que "on respire au Vatican / Une aura si idyllique / Que le Diable devient chrétien / Tout en restant catholique".
Sexta-feira, 11 de Outubro de 2002
É bom que, ao escolher-se um tema que muito vivemos, lhe comecemos por tirar os espinhos antes de o transformar em imagem e em memória. Foi o que fiz. No Vaticano II, o vernáculo é o meu espinho e a minha espinha. Por isso o esconjurei ao principiar
1. No último dos seus romances - "A Alma dos Ricos", segundo tomo de "O Princípio da Incerteza" - Agustina Bessa Luís escreve a páginas tantas: "O que não entendemos é objecto de culto. Quando a Igreja Cristã tirou o latim da missa, perdeu muito da sua sacralidade."
Eis uma afirmação que plenamente subscrevo e há muitos anos sustento. Ainda nada sabia de latim, já ajudava às missas de monsenhor Porfírio da Cruz Quintella, prior da Golegã, na capela da casa do dr. Bustorff Silva, na Arrábida. A talha dourada da capela diziam-na recuperada ou desviada da nau "Portugal" da Exposição de 1940. O monsenhor trocava a Golegã pela Arrábida nos meses estivais. O reumático apoquentava-o e andava apoiado em muletas. "Olha, o monsenhor a remos", disse o Vasco Santana, que o conhecia de miúdo e do Ribatejo e já não o via há eternidades. Aos fins de tarde, o bom do velho, que não tinha acólitos nas redondezas, ensinou alguns miúdos de casas próximas a ajudar a missa. Os estranhos rituais das abluções eram-me tão misteriosos como essa língua, com que, logo de entrada, eu respondia ao "Introibo ad altare Dei" do sacerdote com o "Ad Deum, qui laetificat juventutem meam". E Alguém ou Algo me alegrava de facto, nesse latim que primeiro me ensinaram a pronunciar (com as acentuações eclesiais) e só depois me ensinaram a traduzir, pelos meus 8-9 anos. E em latim respondi aos oficiantes - em Portugal e no mundo - desde essa idade até aos 30, quando o vernáculo substituiu o alfabeto dos segredos.
Li já não sei onde que a "revolução litúrgica" se teria inspirado numa frase de João XXIII: "Quando penso nas belas orações que disse e vós não compreendeis..." Com a devida vénia, neste caso acompanhada por tudo quanto significou e significa para mim o "bom Papa João", neste caso não o sigo. É o que não compreendemos que é o mais belo e transcendente. Quando tudo se passou a entender (se é que se entende), o mistério desapareceu. E desapareceu a "catolicidade", que me fazia ouvir as mesmas palavras no Japão e na Patagónia, na Sibéria e na Nova Zelândia. "Ad utilitatem quoque nostram totiusque Ecclesiae suae sanctae" Não perceberam? Ainda bem.
2. A constituição sobre a liturgia, que substituiu o latim pelas "línguas vivas", autorizou a concelebração, permitiu a comunhão sob duas espécies, reformou o missal e o breviário, bem como o ritual dos sacramentos (entre muitas outras reformas menores, como, por exemplo, a abolição da missa "pro petitione lacrimarum", a que fiz referência na minha última crónica), foi promulgado no fim da segunda sessão do Concílio Vaticano II, em Dezembro de 1963. O texto foi votado 78 vezes e aprovado, finalmente, com 2147 votos a favor e 4 contra. Ao que parece, os bispos acharam que se acabava com "um isolamento sem sentido", que não tinha razões bíblicas mas apenas históricas. Mas não serão históricas todas as razões incluindo as bíblicas? Por mim, falo. Nunca mais "senti" na missa o que nela sentia antes do concílio e não creio que isso se deva, apenas, às minhas crises de fé, de esperança e de caridade. Como recordou Ficino, quinhentos anos antes do concílio, "não era sem razão que os antigos colocavam uma esfinge, pintada ou esculpida, sobre as portas dos templos. Mostrando essa imagem, demonstravam que das coisas de Deus não se deve falar publicamente, a não ser por enigmas."
3. É bom que, ao escolher-se um tema que muito vivemos, lhe comecemos por tirar os espinhos antes de o transformar em imagem e em memória. Foi o que fiz. No Vaticano II, o vernáculo é o meu espinho e a minha espinha. Por isso o esconjurei ao principiar.
Posso agora dizer, como é verdadeiramente digno e salutar, que se comemora hoje - 11 de Outubro de 2002 - o 40º aniversário do início dos trabalhos conciliares, em Roma, a 11 de Outubro de 1962.
Outro dia perguntaram-me se eu me lembrava do que fiz nesse dia. Não me lembro. Mas lembro-me muito bem que estava em casa da Maria Leonor e do Nuno Bragança, quando, à hora do jantar, o Nuno chegou a casa a dizer que o Papa tinha anunciado, em São Paulo-Fora-de-Muros a 18 cardeais, a sua intenção de convocar um concílio. Foi a 25 de Janeiro de 1959, cinco meses menos um dia antes do nascimento do meu filho mais velho.
O Papa era João XXIII, eleito a 28 de Outubro de 1958, aos 77 anos. Quando se soube dessa eleição, o mesmo Nuno - sempre o mesmo Nuno - comentou comigo que o Espírito Santo talvez se tivesse distraído um bocadinho. Depois do longo pontificado de Pio XII (1939-1958) dizia-se que a Igreja precisava de um "papa de transição", que não reinasse muito. Um papa que não fizesse ondas. Será que havia esse tempo a perder, perguntava-me e perguntava-se o Nuno. Mas a homilia de coroação já foi uma surpresa. Ao assumir-se como bispo de Roma, "irmão de todos os bispos do universo", retirando a primazia à chefia da Igreja universal, tão proclamada por Pio XII, João XXIII espantou pela vez primeira (ou pela segunda, já que a escolha do nome também deixara muitos perplexos, pois que joões papas os não havia desde o século XIV).
Mas a 25 de Janeiro de 1959 aconteceu muito mais. Um concílio? Ninguém pensava nisso. E muito menos num concílio para aproximar a Igreja do mundo então contemporâneo. Daí o nosso entusiasmo nesse dia. Algo ia mudar. Uma nova era. Um concílio - o 22º da história da Igreja - ia fazer parte da nossa história, quase cem anos depois do Vaticano I, que não era santo do nosso altar.
4. Reforma da Igreja como povo de Deus. Diálogo com os outros cristãos. Diálogo com o mundo. Durante os trabalhos pré-conciliares, estes foram os três grandes vectores de orientação do pensamento de João XXIII. Marcaram igualmente a primeira sessão conciliar (Outubro a Dezembro de 1962), a sessão que "tomou o pulso à Igreja". Depois, foi a "Pacem in Terris". Depois, a morte de João XXIII (3 de Junho de 1963, aos 81 anos, cinco anos incompletos de pontificado). Mas quem viveu esses anos, por exemplo em Portugal, recorda um clima como nunca mais se viveu na Igreja. Aqui, a política deu-lhe um tempero especial. O reinado de João XXIII coincidiu com o exílio do bispo do Porto, com as primeiras manifestações de católicos contra o regime, com o "Santa Maria", com o fim da Índia portuguesa e com o começo da guerra de África, com os movimentos estudantis, com os livros da Morais, com o aparecimento da "Pragma" e de "O Tempo e o Modo". A propósito de tudo, discussões frementes e veementes. O baluarte católico era o primeiro dos bastiões do salazarismo a mostrar rombos. A "Seara Nova", revista marxista, publicava o retrato do Papa na primeira página, coisa inimaginável nos quarenta anos de vida da revista. Em meios muito conservadores, rosnava-se que já tinha havido outro João XXIII, anti-Papa. Quem se seguiria?
Quanto rezámos para que o sucessor fosse esse cardeal Montini que já tínhamos sonhado ver suceder a Pio XII. E foi Paulo VI. No dia a seguir à eleição, visitei Mário Dionísio, então meu colega como professor no Camões, que estava hospitalizado. Marxista dos quatro costados, militantemente agnóstico, saudou-me com um largo aceno: "Vocês agora têm um Papa a valer." Sorri-lhe, orgulhoso.
Mas cedo começaram algumas reticências sobre o novo Papa. "Forma Pacelli, fundo Roncalli", dizia-se. Quando saiu a "Ecclesiam Suam", primeira encíclica de Paulo VI, escrevi em "O Tempo e o Modo" um artigo que procurava desesperadamente provar (ou "poeticamente" provar, como me acusava, de Roma e da Capela Sinistra, o Manuel Lucena, que me recordava que o mais poético nem sempre é o mais verdadeiro) que Paulo VI evoluía na continuidade do seu predecessor.
Foi mais difícil sustentá-lo na 3ª sessão (14 de Setembro a 21 de Novembro de 1964) e na 4ª (28 de Setembro a 8 de Dezembro de 1965). Em 1964, no mesmo "O Tempo e o Modo" um certo Manuel Frade já via nos textos conciliares "muito mais da multissecular sabedoria da Igreja do que daquele pouco da 'loucura de Deus' de que todos os homens têm fome". E acrescentou: "O milagre não se deu."
Mas, se institucionalmente se não deu (e dos milagres aos cismas, vai às vezes um passo, como recordou outro padre conciliar), para mim esses anos - anos da Concilium, que a Helena Vaz da Silva espalhou por Portugal e pelo Brasil - foram anos milagrosos.
Quem me tirasse esses anos não me tirava tudo, mas tirava-me muito. Como escreveu José Bergamín, esses foram anos em que "on respire au Vatican / Une aura si idyllique / Que le Diable devient chrétien / Tout en restant catholique".
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