O drama dos cristãos

Público 2011.01.09 Pedro Vaz Patto Destas perseguições não deve concluir-se que estamos perante um conflito entre o islão e o cristianismo

Que os cristãos coptas do Egipto, depois do atentado de Alexandria, não possam celebrar em paz nas suas igrejas o Natal é algo que não pode deixar indiferentes cristãos e não cristãos. O que se passou nos dias do Natal ortodoxo com os coptas já se tinha passado com os cristãos iraquianos, que, depois do atentado à igreja sírio-católica de Bagdad, por razões de segurança, cancelaram mesmo muitas das tradicionais celebrações. No Iraque, a presença cristã, que perdura desde os primeiros tempo do cristianismo, devido a estas perseguições, foi substancialmente reduzida desde a última guerra do Golfo e corre até o risco de se extinguir.

Também desde há algum tempo, tem sido noticiada a condenação à morte, ao abrigo da lei paquistanesa contra a blasfémia, de Asia Bibi, por ter afirmado a sua fé cristã e que Maomé não tinha dado, como Jesus, a sua vida pela humanidade. A oposição de um político influente, governador do Punjab, a esta lei e a esta condenação conduziu ao assassinato deste.

Estes e outros factos fazem com que a opinião pública comece a despertar para a realidade da perseguição aos cristãos. Segundo dados da OSCE, cerca de três quartos das perseguições de minorias religiosas em todo o mundo têm por vítimas cristãos de diferentes denominações.

Destas perseguições, muitas delas em países de maioria muçulmana, não deve concluir-se que estamos perante um conflito entre o islão e o cristianismo. Os atentados de Bagdad e Alexandria receberam a condenação de todas as entidades mais representativas do islão. O reitor da grande mesquita de Paris, Dalil Boubakeur, afirmou a propósito: "Não estamos no domínio da religião, nem no do culto, mas no de uma estratégia, actos, a génese de uma identidade mortífera que pretende fazer crer que isto seria o islão, quando não o é absolutamente." Vi imagens de muçulmanos egípcios a manifestar a sua solidariedade para com os coptas e a formar cordões humanos para garantir o seu acesso em segurança às suas igrejas. São vários os muçulmanos que louvam a presença cristã no Médio Oriente (um deles exprimiu-se nesses termos no último Sínodo dos bispos católicos), a qual garante o pluralismo, tolerância e abertura das sociedades dessa região.

Também não se trata de um conflito entre o islão e o Ocidente, alguma forma de confirmação da tese do "conflito de civilizações". Os cristãos do Médio Oriente não são "agentes do Ocidente". Descendem de comunidades que remontam aos primeiros tempos do cristianismo, a muito antes da difusão do islão, e estão plenamente enraizados na cultura árabe.

O que importa salientar é que a perseguição aos cristãos é uma realidade e que nada justifica uma menor sensibilidade da opinião pública para com essa perseguição no confronto com a de outras minorias religiosas ou étnicas. Há que vencer um certo preconceito que configura os cristãos como a maioria historicamente opressora. Não o são hoje, seguramente, as vítimas destas perseguições, muitas delas duplamente marginalizadas (por serem pobres e por serem cristãs).

E há que salientar que está em jogo o tão preciso direito à liberdade religiosa, de cristãos ou não cristãos. Como também afirmou Bento XVI na sua recente mensagem para o Dia Mundial da Paz, trata-se de um bem que "não é património exclusivo dos crentes, mas da família inteira dos povos da terra", "uma aquisição da civilização jurídica e política", "síntese e ápice" de todo o edifício dos direitos fundamentais, onde se exprime "a especificidade da pessoa humana, que, por ela, pode orientar a própria vida pessoal e social para Deus, a cuja luz se compreende plenamente a identidade, o sentido e o fim da pessoa". Juiz

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