As eleições europeias, a crise e a catequese do povo

PÚBLICO, 15.06.2009, Isilda Pegado

O povo penalizou precisamente aqueles que pretendiam matar a economia de mercado, a sociedade e a liberdade

Em Portugal e por toda a Europa a campanha eleitoral teve como tema central a crise. A crise do sistema financeiro, da regulação das instituições e da economia em geral. Mas acima de tudo, nos últimos meses, o que se ouviu com forte convicção, por parte de quem fala, foi o apontar do dedo ao modelo económico neoliberal que teria estado instalado nas economias de mercado em que vivemos e que agora, com a crise, estava "morto e enterrado".
O neoliberalismo era apontado como o carrasco de si próprio. Muitos foram os que catequizaram neste sentido pedindo, ou emitindo mesmo a certidão de óbito do neoliberalismo. Alguns pediram, e em alguns casos fez-se mesmo, a nacionalização de bancos, com o entusiasmo ideológico dos idos anos do "socialismo", outros, com apatia e o medo de se oporem a tão "brilhante" catequese, ficaram mudos. Foram centenas de debates, opiniões em jornais e decisões políticas em nome desta ideologia de esquerda que se via agora, com a crise, mais legitimada para intervir mais na sociedade e cobrar mais impostos à sociedade. Por isso caminhámos para estas eleições com bandeiras triunfais da esquerda que ditariam uma derrota da direita, do PPE, e os governos de Berlusconi, Merckel e Sarkozy seriam os grandes penalizados.
Zapatero e Sócrates no início da campanha, em coro, cantaram vitórias ao socialismo e às suas políticas limitadoras da liberdade, da sociedade e da economia de mercado, que teria os dias contados com as lei da educação, do aborto, de destruição da família que vão paulatinamente fazendo aprovar nos respectivos países, vanguarda revolucionária deste velho continente. A catequese foi muita.
Mas o povo não é parvo. O povo ainda sabe o que é a liberdade, como defendê-la, e qual a melhor herança que pode deixar aos filhos e netos. O povo, nas europeias, disse não à "catequese" socialista. O povo penalizou precisamente aqueles que pretendiam matar a economia de mercado, a sociedade e a liberdade. Não defendemos o neoliberalismo de mercado, defendemos um Estado regulador e fiscalizador, com uma sociedade independente, livre, solidária e onde os corpos sociais intermédios possam exercer a sua função. Em matéria social o Estado é subsidiário da sociedade, isto é, só deve intervir quando a sociedade não tem resposta adequada. O Estado monopólio mata a sociedade.
A catequese serôdia do Estado intervencionista tem grandes paladinos da palavra mas tem contra si o povo. A Europa tem uma cultura nascida de uma experiência de 2000 anos de liberdade que não hipotecará por palavras. É a liberdade que sai reforçada deste acto eleitoral em toda a Europa.
Ex-deputada do PSD

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