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A mostrar mensagens de setembro, 2016

João César das Neves: “Os revolucionários querem usar o Papa como arma de arremesso”

Nuno Ramos de Almeida ionline 20160930 A sua vida balança entre a religião e o ensino da economia. Defende a doutrina social da igreja ao mesmo tempo que acha que é preciso cortar nas reformas e nos salários da função pública. Contraditório? É isto que esta conversa a propósito do livro “A Economia de Francisco, Diagnóstico de um Equívoco” vai tentar esclarecer. Como apareceu a religião na sua vida? Fui educado numa família católica. Os meus país eram muito devotos e envolvidos nas missões da Igreja. Desde pequeno que vivi assim, e depois, à medida que fui crescendo, fui eu próprio tomando as minhas opções, mas é uma situação que vem desde pequeno. Nunca teve dúvidas? Não. Procurei estudar muito e saber muito. Estudei e comparei com outras religiões. É um problema intelectual de devoção mas, sinceramente, a nível da fé nunca tive problemas. Há pessoas com muitas crises de fé, eu não me queixo disso. Tive um grande período de fervor e entrega à fé com nove ou dez anos, e

Morte Assistida: Ainda à Espera de Resposta.

José Maria Duque Nós os poucos 20160930 1. Foi com tristeza e comoção que li o artigo da Laura Ferreira dos Santos (LFS) publicado no Público de dia 7 deste mês, onde narrava a história de dois idosos, um deles afectado por um AVC, que vivem abandonados pela família e pela sociedade. A história, embora se passe no estrangeiro, podia perfeitamente ser a de milhares de idosos que em Portugal vivem nessa situação ou em situações ainda piores. Confesso contudo que o artigo em questão me parece ter acrescentado nada ao debate sobre legalização do homicídio a pedido da vítima. Eu percebo que um idosos doente, que vive sozinho, sem apoio da família e da sociedade deseje a morte. Não consigo compreender uma sociedade que diante destes factos pondere a morte deste idoso em vez de procurar soluções para o problema. Relembro aliás, que um dos pedidos da petição Toda a Vida Tem Dignidade é precisamente que se "Promova uma política mais eficaz de combate à exclusão de idosos e inca

Trágica mansidão

JM Ferreira de Almeida Quarta República ,  30 de setembro de 2016 Um país que não se interroga sobre o que justifica ou o que move o presidente do sindicato dos trabalhadores dos impostos na defesa do diploma, hoje vetado pelo PR, sobre a quebra do sigilo bancário, é uma sociedade que se conforma com tudo o que os poderes lhe infligem.  Pensava eu que não passava despercebido a ninguém que os sindicatos, ainda que nalguns casos constituam consabidamente a infantaria do PC, veem juridicamente limitada a sua ação pela defesa dos interesses  profissionais  dos seus associados. Ou seja, está-lhes vedado o envolvimento no exercício da função política designadamente quando querem condicionar o legislador em matéria que nada tem que ver com direitos e deveres laborais. Mas não é assim, e o Senhor Ralha é sempre solicitado pelos media para opinar sobre a bondade da opção do legislador em matérias constitucionalmente reservadas à Assembleia da República e em domínios que têm que

Inveja e democracia

José Manuel Moreira, Professor Universitário Jornal Económico 20160930 Quem trabalha e gera empregos é opressor e parasita, já os verdadeiros parasitas, são vítimas.  Já quase tudo se disse sobre o “Temos de perder a vergonha e ir buscar a quem está a acumular dinheiro”, os aplausos e o repto de Mariana: “Cabe ao PS, se quer pensar as desigualdades, dizer o que acha deste sistema capitalista e encontrar alternativa”. Apelo que ganhou vida nova com a definição marxista de Costa de uma sociedade decente. Mas, mais que o regresso ao ódio de classes e aos tempos de vivência leninista na casa paterna, importa ir além das justificações para o assalto ao património dos mais ricos ou à devassa de contas bancárias do cidadão comum. Recorde-se o não pagamento de IMI pelos partidos e a indignação face à quebra do sigilo bancário no caso do enriquecimento ilícito dos políticos. Uma classe com muitos licenciados em assalto fiscal e mestres na inversão de valores: quem tra

Bem comum

POVO  30.09.16  Amar alguém é querer o seu bem e trabalhar eficazmente pelo mesmo. Ao lado do bem individual existe um bem ligado à vida social das pessoas: o "bem-comum". É o bem daquele "nós todos", formado por indivíduos, famílias e grupos intermédios que se unem em comunidade social. Joseph Ratzinger

Orçamento do Estado: O extraordinário mundo da política de ilusões

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Helena Garrido Observador 29/9/2016 Os números mostram-nos uma realidade diferente da narrada pelo Governo. À medida que 2016 chega ao fim percebemos que a receita é irrepetível em 2017. Os alertas estão aí a começar pelo FMI. “2016 e 2017 não são nem nunca poderão ser 2011”. A  declaração é do Presidente da República  na abertura do terceiro Fórum do Turismo. Numa só frase, Marcelo Rebelo de Sousa resumiu aquilo que se receia que nos possa acontecer. Para não repetirmos 2011, agora como tragédia, parece óbvio que o Governo vai ter de alterar a combinação de políticas, que lhe garantiu o acordo com o Bloco de Esquerda e o PCP e a subida ao poder. As ilusões chegam ao fim, mesmo que a habilidade política de António Costa consiga manter alguma ilusão. Um dos mais interessantes aspectos da governação de António Costa é sem dúvida o poder de criar ilusões, de fazer acreditar que a “austeridade” acabou. As mensagens políticas e especialmente as ferramentas económicas us

Uma vergonha chamada Metro de Lisboa

JOÃO MIGUEL TAVARES Público 29/09/2016 Desde que vim para Lisboa, há 26 anos, não me recordo de algum dia o serviço de metro ser tão mau como é actualmente. Se alguém tivesse dúvidas de como este país roça por vezes os limites da indigência política, económica, sindical e mediática, o actual estado do Metro de Lisboa estava aí para o provar. Embora eu corra o risco de desiludir todos aqueles que estão convencidos de que sou um beto de Cascais com motorista e caddie, a verdade é que passo a vida a andar de metro. E desde que vim para Lisboa, há 26 anos, não me recordo de algum dia o serviço de metro ser tão mau como é actualmente. Nós já conhecíamos as escadas rolantes que não rolam. Experimentámos carruagens a abarrotar. Vimos os comboios da Linha Verde diminuírem de quatro para três composições ao mesmo tempo que o turismo explodia em Lisboa. Deparámo-nos com obras na estação do Areeiro dignas de Santa Engrácia. Aguentámos intermináveis problemas técnicos na Linha Azul e en

O valor da normalidade

POVO  29.09.16  O mundo moderno está enlouquecido não tanto porque admite o anormal, mas sobretudo porque não valoriza o normal G. K. Chesterton

Inimputável

João César das Neves DN 20160929 Os governos que conduzem os seus países ao colapso são especiais. Vimos isso com Vasco Gonçalves, Pinto Balsemão e José Sócrates, os primeiros-ministros que forçaram Portugal a programas internacionais de ajustamento em 1978, 1983 e 2011. Encaminhando-nos para a quarta derrocada financeira desta democracia, é interessante contrapor as características desses antecessores com as do executivo de António Costa. Antes de mais, destaca-se um aspecto que todos partilham. O actual governo está feliz por existir e espantado por ser aquilo que é. A "geringonça", como ficou conhecida, é uma experiência inédita na nossa democracia, a primeira coligação parlamentar de esquerda, desafiando a sabedoria estabelecida. O simples facto de subsistir delicia os seus partidários. Este é um traço comum aos três casos anteriores. Os governos provisórios viam-se naturalmente como pioneiros, abrindo novos rumos; mas também a governação AD, primeira maioria da

Desigualdades em Portugal

Manuel Villaverde Cabral Observador 24/9/2016 A redução das desigualdades dependerá sobretudo da troca de impostos indirectos sobre o consumo, que afectam proporcionalmente mais os «pobres», por impostos directos sobre o rendimento. O Professor Carlos Farinha Rodrigues do ISEG é o grande especialista português da desigualdade económica em Portugal e apresentou ontem o seu  novo estudo promovido pela FFMS  sobre o período crítico de 2009 a 2014 . O tema é hoje um domínio de investigação altamente sofisticado graças à contribuição de décadas de  Anthony Atkinson , de quem Carlos Farinha foi discípulo e que já veio a Portugal várias vezes por iniciativa da FFMS, a qual publicara há pouco tempo  importante material sobre a questão . Sofisticada como é, nem por isso o estudo da desigualdade económica deixa de constituir um domínio permeado por toda a sorte de problemas teóricos e metodológicos, bem como filosóficos e políticos, frisando frequentemente o terreno escorregadio do «p