Para onde vai Passos e quem lhe faz sombra?

Paulo Baldaia
DN 2016.04.03

Pedro Passos Coelho afinou a estratégia. Já não tem pressa de ir para eleições, já reconhece que a coligação das esquerdas está para durar, pelo menos para durar mais tempo do que estava previsto. Não tem pressa porque precisa que o tempo lhe dê razão, precisa que o modelo económico da nova coligação falhe com evidência. A melhor hipótese de Passos é o pior cenário para o governo do PS. Sem uma catástrofe, sem o risco de um novo resgate, mas com a acção dos mercados a obrigarem a Europa a exigir ao governo o que o PCP e o Bloco não possam dar. Passos aumentou o seu prazo de validade ao alargar o prazo de validade da coligação das Esquerdas. Anuncia-a mais consistente, ainda que com arestas por limar, responsabilizando igualmente PS, PCP e Bloco para poder reafirmar que o PSD não dará a mão a António Costa, quando lhe falhar o apoio de comunistas e bloquistas.
Nem tudo mudou, Passos não se reinventa porque não quer, nem reinventa o PSD porque não pode. O que ele sabe é que tem de recuperar a iniciativa política, apresentando propostas que obriguem o PS a rejeitar o que um dia aceitou ou deixando os socialistas a terem que gerir divergências com os seus parceiros de coligação. Passos segue, no entanto, um caminho que não é fácil, porque não depende sobretudo do que ele fizer, mas do que acontecer fora do seu espaço de acção. Seja como for, até às autárquicas ninguém incomodará o caminho de Passos Coelho. Mas lá chegados, se o PSD não tiver um bom resultado eleitoral, os social-democratas começarão a olhar para o lado, à procura de quem dê mais garantias de regresso ao poder.
Não é, no entanto, quem veio ao congresso procurar marcar posição, como José Eduardo Martins ou Pedro Duarte, que faz sombra ao líder. Nem parece que seja algum dos ilustres ausentes mais falados, como Nuno Morais Sarmento, Manuela Ferreira Leite ou Rui Rio. O início do mandato do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, em namoro declarado com Costa, atrapalha mais a afirmação da alternativa. Num país que não estando bem, mas em que pelo menos a palavra austeridade já não é a mais repetida, só há a luz dos holofotes para Passos em matérias que anunciem polémicas ou divisões internas. Há alturas em que é preciso recuar para ganhar balanço, é nisso que parece acreditar Pedro Passos Coelho. É preciso transformar um ex-primeiro-ministro num candidato a primeiro-ministro. Conseguirá libertar-se da sua própria sombra? Passos é persistente. Chegará lá?

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