Encontros de alegria no silêncio do País: Missão País

Agora Pensamos juntos / 01 Mar 2016 / Autor: Sofia Cabrita

“Têm o sentido das pequenas coisas e colos onde cabem as grandes.

À minha volta, as conversas são monótonas, num tom já de aborrecimento: somos uns desgraçados. A nossa geração levou com os erros do passado, e cometeu os próprios. A nossa geração é má, é realmente má. Não nos envolvemos na política, estudamos para o 10 e pouco ou nada nos interessa o défice orçamental. Aquecemos o sofá com posts no Facebook sobre as grandes crises humanitárias do nosso século e achamos que não faz mal ficar por aí. A nossa geração está, realmente, desinteressada.
Contudo, a verdade é que no último mês, mais de 2000 destes jovens desinteressados saíram das suas casas, com uma mochila às costas e foram conquistar Portugal. Saíram à procura de algo que nem os próprios sabiam bem o que era, na certeza que do outro lado um encontro espetacular se iria revelar. A verdade é que durante uma semana conheceram um Portugal escondido e esquecido. No recôndito deste nosso canto de todos os dias, vive-se a solidão nas casas, o desespero da doença e do esquecimento, a incerteza de um futuro brilhante num interior desertificado.
Numa época em que o mundo parece desabar aos nossos pés, que nos é pedido tanto a nível profissional e pessoal, são estas vidas que fazem renascer. E ajudam-nos, a nós jovens, a renascer em 7 dias. É um renascer que se explica na força de um abraço, a sabedoria que só o tempo coloca nas palavras, as vidas infindáveis e ancestrais de um país que não conhecíamos, um aperto de uma mão cujas marcas desenham uma história, que é também nossa.
Do Sardoal a Galveias, de Aguiar da Beira a Alter do Chão, cerca de 60 universitários saem da sua zona de conforto e entregam-se a um outro Portugal- e coisas pequenas é o que fazem. Na simplicidade das tarefas do quotidiano, entregam o pouco que têm, na certeza que de que existe Algo maior do que tudo aquilo. Na alegria dos encontros, redescobrem sítios há muito esquecidos pela sociedade- dão-lhes vida e recebem vida. Enganam-se os que pensam que, como há 800 anos, foram conquistar terras. Conquistados por elas fomos nós, todos os dias. Grandes ou pequenos, gordos ou magros, velhos ou novos, altos ou baixos, reconhecem que, no final de contas, aquilo que realmente importa é transversal , que a vida é feita destes encontros transformadores e que aqueles que têm menos, são os que nos dão mais.
Não vão à procura de nada em especial- e encontram um mundo de tudo. E depois surgem as perguntas difíceis, a que queremos fugir, no medo (ou certeza) de desconhecermos a resposta: abriria eu as portas de minha casa, como fizeram comigo? Como são os meus encontros no dia-a-dia? E é aí que esta semana se torna transformadora e nascem as suas graças.
A Missão País não é apenas o maior projeto católico da Europa- os números todos conhecemos. Mais espetacular do que isso, é a força da sua mensagem e a certeza de que a alegria e a missão se começa de dentro, em casa, na simplicidade dos pequenos momentos. Estes 2000 missionários, ao fim de uma semana, voltarão às suas casas, e aquelas terras voltam também aos seus dias mundanos. O campo de batalha é agora outro, na certeza que a verdadeira missão começa agora, numa vida feita de encontros e desencontros, bem diferentes dos daquela semana.
Não, numa semana não se muda o mundo. Muito está mal e assim vai continuar a estar. Não conseguiremos impedir a fome no mundo, a transmissão de doenças ou o défice de educação. Mas porquê ir para os países do terceiro mundo se aqui, mesmo ao nosso lado, temos ainda tanto para transformar e melhorar?
Comecemos então por aquilo que é nosso- neste país que faz de nós o que somos hoje, façamos então nós um bocadinho por ele.

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