Voto Marcelo se ele marcar eleições para junho

Henrique Raposo
Expresso, 2015.11.10

Marcelo comete um erro se pensar que já fixou o eleitorado de direita que se sente justamente enganado com a golpada em curso

A fraude da “maioria de esquerda” prossegue o seu caminho. Costa é aquele gangster que nunca é preso devido a um pormenor risível, devido a uma tecnicidade de tribunal; toda a gente sabe que ele é culpado mas as regras não permitem a prisão. Neste caso, a regra que possibilita a fraude é a alínea que impede o Presidente de dissolver a Assembleia seis meses antes do fim do mandato. É só este detalhe técnico que tem mantido Costa ligado à máquina. Se Cavaco estivesse na posse de todos os seus poderes, a farsa já teria acabado com a convocação de eleições que clarificassem a situação. É isto que se exige ao novo Presidente. O país só voltará à serenidade depois de novas eleições. 
A mudança sísmica em curso não pode nascer num golpe de secretaria. Em 40 anos de democracia, a aliança de esquerda foi um tabu insuperável. O ódio entre as esquerdas foi a norma. Em 40 anos de democracia, apenas um partido (Livre) propôs uma aliança de esquerda e, nestas eleições, obteve apenas 39 mil votos. O número fala por si. A aliança de esquerda é impossível porque nada de estrutural une as esquerdas. Por outras palavras, esta “maioria de esquerda” pós-eleitoral é uma fraude que resulta de três desesperos esquerdistas. Primeiro: o mau perder indecoroso de quem julgava que a direita ficaria reduzida a 25%; o espanto despeitado perante os 40% da Coligação explica a amizade súbita entre as esquerdas. Segundo: a estratégia de sobrevivência de António Costa, que ficará na História como o momento mais escatológico da III República. Terceiro: o desejo do PCP em travar mais concessões ou privatizações dos transportes. Se os transportes saíssem da esfera da CGTP, o PCP ficaria sem um dos seus braços. 
Nada disto é estrutural, trabalhado, honesto. Tudo seria diferente se existisse um trabalho de fundo das esquerdas no sentido da construção desta alternativa. Mas, como se sabe, esse trabalho de aproximação nunca existiu nos últimos meses ou anos e a hipótese só surgiu depois da derrota de Costa. 40 anos de ódio não se resolvem num mês de negociações secretas. A mentira tem de ser sufragada. Gostam ou não os portugueses deste cozinhado revolucionário? Neste sentido, é importante que Marcelo Rebelo de Sousa compreenda que o eleitorado de direita, a sua base de partida e o maior bloco eleitoral do país, só votará num candidato que garanta a realização de eleições clarificadoras em meados do próximo ano. Será ele capaz de assumir isto? Duvido. O “Professor” foi, é e será um político cobarde, será sempre um ser viperino, disforme e incapaz de tomar posições claras. 
Os tempos não estão para cortesãos dubitativos, os tempos exigem um módico de coragem.

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