Tudo farinha do mesmo saco? Ou não?

Carlos Carreiras
ionline 20151105

Catarina Martins, deslumbrada com o poder, aburguesou o BE num processo de varoufakização. Está no último acto da sua peça. E Jerónimo está atento.
Que há uma maioria de deputados na AR capaz de derrubar o governo, ninguém duvida que sim. Que há uma maioria de deputados na AR capaz de um acordo construtivo, ninguém dúvida que não. Quanto mais tempo passa, mais se percebe que PS, BE e PCP divergem em tudo. Excepto na necessidade de derrubar o governo PSD/CDS e na vontade sequestrar o poder. Toda a coreografia montada em torno dessa entidade mítica chamada “acordo” é reveladora desta predisposição negativa das esquerdas.
É um teatro burlesco. Catarina Martins, na pele de estadista, é a personagem principal. Ela anuncia o aumento do salário mínimo em quatro anos. Ela decreta o fim da austeridade nas pensões. Ela é toda cautela com as contas públicas. Ela revela negociações que mostram um PS fraco e um PCP encurralado. Quanto a Jerónimo de Sousa é um irredutível. Contem com ele para dar cabo do governo legitimamente eleito pelo povo mas esqueçam lá o assunto de comprometer o PCP com o euro ou com a Europa. Ou há nacionalizações e quebra dos compromissos nacionais com a Europa, ou não há acordo. Quanto a António Costa, ficou com o papel de figurante. Está caladinho e quieto enquanto os outros actores tomam conta do palco político. 
Isto pode dar muito mau resultado. Catarina Martins, deslumbrada com o poder, aburguesou o BE num processo de varoufakização. Está no último acto da sua peça. E Jerónimo está atento. Percebe que o BE trocou as ideias pelo poder e que não tardará muito cairá com estrondo. Também sabe que o PS recuará tudo o que for necessário para que Costa chegue a S. Bento. O PCP pode dar-se ao luxo de subir a parada. Tem o futuro de Costa na mão. 
O silêncio de Costa é revelador da clandestinidade em que o suposto acordo tem sido cozinhado. Há três semanas que várias figuras socialistas dão como fechado o acordo das esquerdas. Gabam-lhe o carácter benigno e a novidade histórica. Mas se o acordo é assim tão bom e assim tão novo, porque é que o PS não o mostra aos eleitores? Aos seus militantes? À comissão nacional?
Costa não mostra o papelinho por três razões:
  1. porque o acordo é uma inexistência e não se pode mostrar o que não passa de uma mezinha revolucionária;
  2. para se chegar a um esboço do que se possa, vagamente, chamar acordo, o cenário de Centeno que Costa jurou defender está a ser desmembrado;
  3. feitas as contas, a troika das esquerdas não está a tratar de um acordo de governo para o país. Está a regatear o preço a pagar para salvar a pele de António Costa. Fazer de um derrotado primeiro-ministro tem um custo. No ataque ao poder, Costa e Catarina são farinha do mesmo saco. Resta saber se Jerónimo é de outra colheita.
Há muito PS para além de Costa. A dúvida é se esse PS permitirá o embarque do partido na loucura de uma direcção preparada para vender a alma ao Diabo. Este processo de degradação do PS só pode ser travado com o repúdio da moção de rejeição. É esse o momento. Passada essa oportunidade, esse silencioso e maioritário PS que está para além de Costa terá de suportar a degeneração eleitoral do partido, que ficará reduzido à disputa de 30% do eleitorado com o BE e o PCP.
Cabe à coligação solidificar o restante espaço político, neutralizando o aparecimento de formações, especialmente à direita. Tornando ainda mais sombrios os cenários socialistas, um governo de curta duração poderá, com probabilidade, cair no ciclo autárquico, aumentando o potencial de derrota do PS nos planos local e nacional.   
António Costa tem liderado o PS na base da trapaça. Traiu Seguro para lhe açambarcar o poder. Trocou Lisboa pelo PS. Enganou os militantes, a quem prometeu uma maioria absoluta. Descartou os estatutos do PS, que obrigam a realizar congresso depois de eleições nacionais. Falseou os resultados aliando-se à esquerda numa coligação negativa nunca votada. Orquestrou a mentira de um acordo a três que não passará de uma fórmula para substituir um governo minoritário legítimo, por outro ainda mais minoritário, com menos força, estabilidade e legitimidade política. Está na hora de acabar com esta mentira.
PS - Faz hoje um mês que os portugueses escolheram a PàF para governar Portugal. O PS não percebeu e criou um impasse que o país não queria, e custos injustos para os portugueses.

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