Debate histórico entre Soares e Cunhal foi há 40 anos

PEDRO OLAVO SIMÕES
DN | 20151106

Há 40 anos, a 6 de novembro, o país era capaz de parar para assistir a um debate entre dois políticos, ao longo de quase quatro horas, no canal único da televisão portuguesa.
Mário Soares e Álvaro Cunhal, secretários-gerais, respetivamente, do Partido Socialista e do Partido Comunista Português, num frente a frente moderado por Joaquim Letria e José Carlos Mégre, eram os rostos da profunda divisão em que o país estava mergulhado, semanas antes dos acontecimentos de 25 de novembro de 1975, que poriam fim ao Processo Revolucionário em Curso (PREC) e abririam caminho à normalização do regime democrático a que o 25 de Abril abrira portas.
Num tempo em que quase todas as forças políticas, incluindo o PPD (hoje PSD), preconizavam o rumo do socialismo, havia, para alguns, a esperança em que o debate pudesse estimular o entendimento entre estes dois líderes esquerdistas, mas a clivagem era insanável. Enquanto Cunhal defendia a legitimidade revolucionária, rejeitando a presença de elementos do PPD no VI Governo Provisório (chefiado por Pinheiro de Azevedo), Soares preconizava o primado da legitimidade eleitoral. E esta era muito clara: a 25 de abril de 1975, um ano depois da "Revolução dos Cravos", o PPD obtivera 26% dos votos no mais participado ato eleitoral de sempre em Portugal (até hoje), a escolha dos deputados à Assembleia Constituinte.
Resumidamente, Soares defendia a revolução legitimada pelos portugueses, enquanto Cunhal sustentava que a revolução tinha de ser feita contra alguém, rejeitando a participação de forças que apelidava de reacionárias e cujo resultado eleitoral justificava com a alegada ação de caciques locais.
O momento mais marcante do debate acabou por ser um aparte aparentemente banal, mas que, por razões dificilmente explicáveis, perdura até hoje. "Olhe que não, olhe que não!..." foi a reação de um sorridente Cunhal à grave acusação que Soares fazia aos comunistas, dizendo que pretendiam "transformar este país numa ditadura". Ficou.
Com o 25 de Novembro, os setores mais conservadores chegaram a querer fazer uma espécie de PREC ao contrário, tentando afastar o PCP do processo de democratização, mas valeu a firmeza de Melo Antunes, militar de Abril e ideólogo do "Grupo dos Nove" (os elementos do Conselho da Revolução que puseram travão ao PREC), ao clarificar que nada avançaria sem a inclusão dos comunistas, consabidamente a força mais importante num longo historial de combate à ditadura do Estado Novo.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

OS JOVENS DE HOJE segundo Sócrates

Hino da Padroeira

O passeio de Santo António