António Costa à beira da demissão do PS
João Lemos Esteves | SOL | 01/10/2015
- É quase oficial: António Costa já está convencido que a partir de segunda-feira já não será líder do Partido Socialista. Os seus mais próximos – e mentores da sua campanha interna do PS – já dão como certa a decisão de António Costa e equacionam já os vários cenários para a sua substituição. Alguns já se encontram mesmo mais empenhados em reforçar a sua ligação com as bases do partido socialista do que participar ativamente na campanha.
- O que explica que, na reta final da campanha, a solidão e a incapacidade de mobilização da campanha socialista sejam por demais evidentes – e estranho para os mais distanciados da luta e do fenómeno político. Para os mais atentos é apenas normal: a derrota do Partido Socialista é um cenário objetivamente muito provável, pelo que os seus dirigentes preferem defender os seus interesses futuros do que apegar-se à ideia abstrata de “bem da Nação”, “interesse do país” ou “ defesa do partido”. Há dois nomes que se impõem para a sucessão de António Costa: Francisco Assis e Pedro Nuno Santos, que está mais do que desejoso de disputar a liderança do partido. Diz-se que as suas relações com António Costa azedaram e, nas últimas semanas, Pedro Nuno tem iniciado o seu próprio caminho. Seguido a sua própria agenda política, apesar de – realpolitik assim o impõe - de aparecer ao lado de Costa na campanha em Aveiro. Há que manter as aparências até domingo. Sobre a sucessão de António Costa no PS, teremos a oportunidade de nos pronunciar nos próximos dias e semanas, a seguir às eleições.
- O que importa hoje realçar é que não há outro cenário possível que não a demissão de António Costa no domingo. A maioria absoluta do PS é um cenário impossível; e a vitória do PS é um cenário altamente improvável, a roçar a impossibilidade. O PS até pode vencer as eleições com uma vantagem de 1% ou 2% - mas, ainda assim, António Costa certamente só poderá apresentar, logo no domingo, a sua demissão. Porquê? Porque António Costa criou uma doutrina própria (em abono da verdade, foi a única ideia consistente que António Costa lançou no último ano): a tese da injuntividade, da obrigatoriedade da vitória histórica. Isto é: para António Costa, à derrota histórica da direita tem de corresponder a vitória histórica do Partido Socialista. Não chega, pois, uma vitória por poucochinho.
- E ter uma vitória por poucochinho legitima a sua manutenção como líder? Claro que não: segundo a doutrina de António Costa, uma vitória poucochinha é o mesmo que uma derrota, pois não poderá colocar em prática o seu plano de ação. Esta premissa foi, aliás, a principal razão pela qual apeou António José Seguro da liderança do PS. E António José Seguro venceu as eleições europeias com uma margem que hoje seria um sonho de uma noite de outono para António Costa.
- Nós achamos que António Costa tem inúmeros defeitos políticos, como é público e notório. Mas há um que não lhe imputamos: o da incoerência política. António Costa jamais agiria contra a doutrina que ele próprio fixou – a de que à derrota histórica da direita tem de corresponder a vitória histórica do PS. Se perder (como é provável) ou se ganhar por poucochinho, António Costa apresentará, sem hesitar, a sua demissão. Assim já o terá admitido entre os seus mais próximos, que já estão em sofrimento solidário com o líder.
- Enfim, é um daqueles casos em que o criador é vítima da criatura – ou melhor, em que o doutrinador é vítima da sua doutrina. É a vida…Uma pergunta indiscreta: António Costa já ligou a pedir perdão a António José Seguro?
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