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A mostrar mensagens de agosto, 2014

Mistérios da fé: os Zés que fazem falta

Helena Matos  |  Observador   31/8/2014 Enquanto lisboeta regozijo-me por José Sá Fernandes ter a seu cargo os jardins. Suponha-se que lhe tinham dado rédea livre para as estátuas, cruzes, bibliotecas pejadinhas de livros ultrapassados? O carácter messiânico da esquerda que quer sempre ser mais esquerda, mais pura e que passa a vida a garantir que agora é que vai ser produz a nível internacional fenómenos como Hollande (são dignos de uma antologia da fé os títulos da imprensa portuguesa após a eleição de Hollande) e, numa pequena escala, gera fenómenos como José Sá Fernandes que assim que passam das palavras aos actos se assemelham àqueles balões que mal saem das mãos do vendedor para as da criança começam a perder gás. (Ainda não me recompus dos cinco euros que dei por um balão Hello Kitty na precisa semana em que se descobriu que a dita afinal não é uma gata mas sim uma menina e para meu azar o balão também descobriu que não quer ser balão e está para ali mais vazio que os no

Muita tabuleta ele vai ter de apagar

FERREIRA FERNANDES DN 29 agosto 2014 A Praça do Império tem brasões florais das ex-colónias no jardim. O vereador Sá Fernandes quer que sejam eliminados porque brasões de ex-colónias "estão ultrapassados". É um critério e está bem defendido:ex quer dizer estar ultrapassado. Mas brasões e tabuletas existem também para lembrar coisas que acabaram. Se vamos acabar com tudo que acabou, a Praça do Império vai na enxurrada, aliás como o seu autor, Cottinelli Telmo, que também tem praça. Outra: a Rua Cidade de Salazar, no Bairro das Colónias. Parece um buraco negro: já não há colónias, nem Salazar, nem Cidade de Salazar (hoje chama-se Ndalatando). O problema é que se vamos por aí também há argumentos para acabar com a Praça da Alegria. Mas se acabamos com coisas que acabaram ou que dizem coisas com que não gostamos hoje, caímos naquilo de o apetite vir com o comer. O Beco da Ré vira Beco da Arguida. O Beco do Carrasco parece morar em Estado Islâmico. O Beco das Beatas pode s

Salamanca: a escola do universo

VIRIATO SOROMENHO-MARQUES DN 2014.08.31 Quando nos aproximamos de Salamanca, a cidade banhada pelo Tormes, o seu casco histórico, Património Mundial desde 1988, brilha como uma seara de trigo debaixo do sol. Há muito para ver. Mas o coração espiritual da cidade palpita entre o Convento Dominicano de Santo Estêvão (que está unido à igreja plateresca consagrada ao mesmo santo) e a universidade. Foi aqui que no dealbar do século XVI nasceu a famosa Escola de Salamanca, que foi a semente das modernas teorias do direito internacional (na altura "direito das gentes"), em profunda ligação com uma doutrina igualitária e universalista dos direitos humanos. Perto do convento ergue-se a estátua do fundador da escola, Francisco de Vitoria (1483-1546), o académico brilhante que nas suas Lições de 1539, dedicadas aos "Índios" e ao "Direito de Guerra", destruiu a boa consciência dos conquistadores, mostrando que o império que Espanha construía no Novo Mundo era base

«Priest holes» (esconderijos de padres)

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José Maria C. S. André «Correio dos Açores», «Verdadeiro Olhar», 31-VIII-2014 Chegou a altura de o povo britânico conhecer a sua história, é o que agora pensam os historiadores do Reino Unido. Não basta ler o que há escrito? J. J. Scarnbrick, Christopher Haig, Eamon Duffy, Diarmaid MacCulloch e outros académicos dizem que a história foi distorcida, ao serviço de uma mensagem, e é preciso recuperar as fontes. Tudo muda. Os novos livros fazem lembrar as obras antigas monumentais do Lingard, do Milner, ou a síntese do Cobbett, geralmente desprezadas como «propaganda católica». O impacto deste novo olhar sobre os últimos quinhentos anos de história é imenso, porque, em certo sentido, é a própria identidade deste Povo que está em causa. Além disso, o movimento «revisionista» não é uma moda extravagante, é a unanimidade dos principais especialistas. Dizia-me um professor da universidade que a história do Reino Unido já não volta atrás, depois do revisionis

Cabeças duras

João Pereira Coutinho, Correio da manhã, 30.08.2014 00:30 O vereador lisboeta José Sá Fernandes, talvez amuado por ninguém lhe passar bola há muito tempo, gostaria de remover os brasões coloniais do jardim da Praça do Império, nos Jerónimos. A coisa não faz sentido, diz o vereador, que gosta de abolir as coisas que não fazem sentido na cabeça dele. Por mim, esteja à vontade. Mas alguém devia informar a criatura que apagar a história material que o país foi construindo desde 1143 implica escavacar Portugal inteiro e todos os símbolos que poluem a paisagem com vícios e ganância, segundo o alarve anacronismo do vereador. Se as nossas desventuras coloniais só terminaram formalmente em 1999, com a devolução de Macau, Portugal devia apenas conservar o que foi construído daí para a frente, em democracia, e sem contaminações coloniais ou 'fascistas' de qualquer espécie. No fundo, um país desértico em que só se salvava o Túnel do Marquês e pouco mais.

Eles & Elas

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Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada |  ionline 2014.08.30 Apesar de, na aparência, a nossa sociedade ser machista, na realidade são elas que mandam! Não é pacífica a relação entre homens e mulheres, pelo menos desde Adão e Eva. A crer no relato bíblico, foi a mulher que obrigou o homem a comer o fruto proibido e, desde então, elas nunca mais deixaram de mandar. Aliás, é por isso que nos fazem crer que vivemos numa sociedade machista…  Se não, vejamos. Um homem que considera as mulheres menos aptas para o exercício de um cargo ou profissão é, obviamente, machista. Mas, se uma senhora tecer a mesma opinião em relação aos cavalheiros, ninguém a acusará de feminista que, por sinal, não é o contrário de machista, nem a sua versão feminina, que não há. Com efeito, ser machista é sempre um insulto, algo política e socialmente incorrecto, porque pressupõe uma atitude prepotente e desrespeitadora dos legítimos direitos do outro sexo. Mas ser feminista é uma virtude, porque se ente

Os sentidos do acaso

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José Luís Nunes Martins ionline 30 Ago 2014  Buscamos o sentido da nossa vida em cada dia. Acreditamos que ele existe, que se esconde e se revela… que o acaso é apenas a explicação mais pobre para as coincidências. Convencemo-nos que quando dois acontecimentos ocorrem um depois do outro, ou o primeiro foi a causa do segundo ou, pelo menos, terá tido nele alguma influência. Quando sucede algo de muito bom, tendemos a repetir o que o antecedeu na esperança de que o mesmo volte a acontecer. Como se tudo fosse repetível, bastando premir o botão certo para obter o resultado desejado. Apesar da ilusão, trata-se de uma admirável vontade de sentido. Uma espécie de intuição que garante que todos os acasos serão apenas partes de algo que (ainda) não conseguimos alcançar. E isto é bom. A fé que temos no mundo altera-o, porque nos permite ver para além de nós… torna-nos mais atentos e dedicados. Quando nos sentimos ao leme dos acontecimentos, isso motiva-nos e mant

O cabo das tormentas

Inês Teotónio Pereira | ionline 2014.08.30 Nós, pobres pais, só sabemos ser pais de crianças. Ser pai de jovens é uma contradição. Dizia-me um amigo, num tom ligeiramente exasperado, a propósito das primeiras saídas à noite do filho de 15 anos: "Se ele se lembra de fazer um terço das asneiras que eu fiz quando tinha a idade dele, desfaço-o e ponho--o de castigo para sempre". Eu, tal como o meu amigo, também tenho pânico da juventude dos meus filhos. A juventude deles é uma espécie de Cabo das Tormentas dos pais: não fazemos ideia dos monstros que lhes podem aparecer , mas sabemos que para continuar a viagem temos de passar por lá. O meu amigo está quase a virar o Cabo e está compreensivelmente aterrado. Ele sabe que a sua passagem teve alguma dose de sorte e que o facto de não ter naufragado algures na viagem, tem tanto de fortuna quanto de sapiência. E agora, tal como D. Manuel temia pelo destino das suas naus, também ele teme pela chegada do filho a bom porto. E

O islão e nós

VASCO PULIDO VALENTE Público, 30/08/2014 - 00:59 O Ocidente é o inimigo universal das forças que dominam o mundo muçulmano, não pode arbitrar ou conciliar, tanto mais que não conhece ou não percebe as sociedades em que se acha na obrigação de intervir. Nem os milhares de funcionários que na América tentaram convencer Bush que não era uma boa ideia invadir o Iraque, nem os conselhos de fora, nem sequer a própria evidência das coisas conseguiram impedir o desastre da invasão. Bush passou por cima de tudo e, de caminho, arrasou o equilíbrio precário que a Inglaterra e a França tinham imperialmente estabelecido na região depois da I Guerra Mundial. No fim, quando se retiraram as tropas do Ocidente, ficou o que devia ficar: uma guerra civil étnica e religiosa, que pouco a pouco alastrou a uma boa parte do mundo muçulmano, com o apoio e a colaboração das colónias de refugiados nos países mais tolerantes da Europa. Como se viu agora com a morte de James Fowley, o Londanistão realmente e

As lulas cor-de-rosa e a sustentabilidade

HENRIQUE PEREIRA DOS SANTOS Público, 29/08/2014 - 12:46 Grande parte dos prazos dos alimentos que usamos não servem para grande coisa. Quando vejo uma receita de cozinha pela primeira vez, e quero experimentar, gosto de a seguir à risca. A principal razão é ser um mau cozinheiro, cozinho porque alguém tem de o fazer, de maneira que para saber se a receita é boa, ou não, o melhor é fazê-la depender, o menos possível, do cozinheiro. Quando entrei no supermercado vi, numas promoções, um ketchup , mas não da marca referida na receita, de maneira que não o comprei. E quando passei pela peixaria, ainda olhei para as lulas, mas precisava de trabalhar e não poderia perder muito tempo a arranjá-las para o jantar, de maneira que as deixei ficar. Como raramente compro ketchup , e o supermercado de vez em quando muda as coisas de sítio, acabei por não comprar nenhum, porque não vi onde estava e sempre poderia fazer um molho de tomate. Cheguei portanto a casa, a pensar na receita das l

Palavras esquecidas

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Suzana Toscano ionline 2014.08.29 Aquele que leva uma vida sem mancha(...); aquele cuja língua não levanta calúnias nem causa prejuízo a ninguém; aquele que não falta ao juramento (...). Quem assim proceder não há-de sucumbir para sempre." Livro de Salmos 15(14),2-3.3-4.5. Apesar de tudo nos parecer tão fugaz, o desejo de permanecer é um dos maiores impulsos que dita o comportamento. O desejo de permanecer no poder, no coração dos que amamos, no círculo de amigos ou enquanto parte de um ambiente de trabalho, de um clube ou de um partido. É o desejo de permanecer que nos move, que nos obriga a trabalhar mais, a ser atentos e generosos ou a lutar contra o que nos pode ameaçar. É também esse desejo que nos impele à mudança, quando não é para fugir mas para procurar, para evoluir a partir das referências que transportamos. Em tudo isto lá está o sentimento de resistir a sucumbir...Permanecer significa continuar lá mesmo depois de termos saído, mas isso só

As reuniões de jovens pelo Facebook e a outra pobreza

PEDRO AFONSO Público, 29/08/2014 - 00:30 O problema reside na incapacidade que muitos destes jovens têm em planear o futuro e adiar a gratificação. Recentemente ficámos surpreendidos com um encontro de centenas de jovens no Centro Comercial Vasco da Gama, em Lisboa, convocado através do Facebook e que terminou com cinco agentes e um jovem de 15 anos feridos, e com dois jovens acusados de resistência e coação à autoridade. A abordagem de qualquer fenómeno desta natureza é sempre parcial e incompleta, pois cada um destes jovens mobilizados para estas ações através do Facebook tem um percurso de vida único. Além disso, é provável que nestes grupos haja vários jovens "normais" e bem adaptados. Mas afinal o que pode explicar alguns comportamentos antissociais? O que pensam estes jovens? O que sentem? Quais são as suas expectativas sobre a vida? Quando na infância e na adolescência não se reúnem um conjunto de condições para um normal desenvolvimento psíquico existem sempr

28 de Agosto - Santo Agostinho

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Santo Agostinho no seu gabinete de trabalho Sandro Boticelli (1480) Fresco (152 x 112 cm) Igreja Ognissanti Florença "Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu, lá fora, a procurar-Vos! Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes. Estáveis comigo e eu não estava Convosco! Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria, se não existisse em Vós. Porém, chamastes-me, com uma voz tão forte, que rompestes a minha Surdez! Brilhastes, cintilastes, e logo afugentastes a minha cegueira! Exalastes Perfume: respirei-o, a plenos pulmões, suspirando por Vós. Saboreei-Vos e, agora, tenho fome e sede de Vós.Tocastes-me e ardi, no desejo da Vossa Paz"

As modernas ilusões democráticas

Maria Fátima Bonifácio |  Observador | 2014.08.28 A "representação" política é largamente uma ficção, mas uma ficção útil, a melhor que se descortinou até hoje para tentar harmonizar os interesses contraditórios que dividem todas as sociedades. No início dos anos 70 do século XIX, Oliveira Martins, no rescaldo de um golpe miliar que reeditou a tradição anterior a 1851 de remover governos pela amotinação ou pela intervenção militar, escreveu bombasticamente: "O sistema parlamentar acabou em Portugal." O interessante é notar que em seu entender este veredicto se aplicava ao país independentemente do recurso à violência política, que em si mesma constituía uma negação democrática. A razão da intensa instabilidade política e governativa que marcou o século era outra, e bem simples: "Os representantes da nação não representam nunca nem as aspirações nem a vontade do país." O rei e a sua coterie de "rotativos", como se chamava aos dois partidos

Rezemos pelo Diogo, irmão do nosso querido Pe. Duarte

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senzapagare , 27.08.2014 Quem puder reze pelo Diogo, que morreu hoje, para que Nosso Senhor o acolha na Sua infinita misericórdia. O Diogo foi brutalmente atacado por ser um cavalheiro, defendendo uma amiga dos abusos de "animais" que frequentam a noite lisboeta. Quem o matou também precisa de oração, para que perceba o crime hediondo que cometeu e se arrependa.  Também é importante que seja feita justiça, e que o sistema judicial perceba se as penas que aplica são suficientes para dissuadir barbaridades como esta. Por último, é preciso rezar pela família do Diogo, que tem sido um grande exemplo, para que continue a deixar-se envolver pelo amor de Deus, mesmo no meio de todo este drama. Requiem aeternam dona ei, Domine. Et lux perpetua luceat ei.  Requiescat in pace. Amen.

27 de Agosto - Santa Mónica

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O testemunho de fé e perseverança de Santa Mônica geraram frutos de eternidade e santidade para sua família e para a Igreja. Zenit Horizonte, 27 de Agosto de 2014 ( Zenit.org ) Fabiano Farias de Medeiros   "O coração de teu filho não está ainda preparado, mas Deus determinará o momento. Vai e continua a rezar: é impossível que se perca um filho de tantas lágrimas". Esta frase dita por um bispo à Santa Mônica norteia a vida e missão desta que nasceu em Tagaste na África por volta do ano 332. Seus pais a confiaram aos cuidados de uma senhora que a educou nos fundamentos da fé cristã e forte disciplina. Aos dezessete anos casou-se com Patrício que era pagão e infligia à Mônica muitos constrangimentos, maus tratos e traições. Mônica tudo suportava em silêncio e profunda oração na qual suplicava a conversão do esposo. De seu matrimônio nasceram Agostinho e Navígio e Perpétua. As orações de Mônica alcançaram de Deus a graça de ver no ano 371 seu esposo ser batizado. Um a

Proporções do amor

MIGUEL ESTEVES CARDOSO Público, 27/08/2014  Partilhar, quando se ama, é um verbo positivo, no pior e mais negativo sentido matemático e romântico. Nos últimos dias, o mar nas furiosas praias de Colares tem conseguido correr com as ondas, sem ser as mais pequenas, só para refrescar as testas. Tem sido novo e misterioso nadar na Praia das Maçãs e na Praia Grande sem hipótese de susto ou de medo. Só a Maria João tem faltado, durante as poucas horas que passa, divertida, com a divertidíssima mãe dela. Escrevo "só" no sentido dramático e poético de António Nobre e não como sinónimo do britânico "apenas". Nadando sozinho, sem a Maria João, percebo que partilhar, quando se ama, é um verbo positivo, no pior e mais negativo sentido matemático e romântico. Quando se partilham coisas que se têm de dividir entre pessoas - horas do dia; sangrias; charutos; fatias de presunto - quanto mais pessoas, menos fica para cada um de nós. Mas quando é a partilha que dá val

Senhor jihadista, posso ter a Grã-Bretanha de volta? Obrigada.

Maria João Marques OBSERVADOR | 27/8/2014 A UE decidiu tolerar o barbarismo e a opressão como sinal de (imagine-se) liberdade. O barbarismo pagou-nos com redobradas atenções. Sou anglófila até à medula. Contado depressa: adoro all things british. O folclore da finest hour, a forma como valorizam a excentricidade, o Yes, Minister e o Fawlty Towers, as livrarias e os autores curiosos que descubro nas livrarias (de fugida, nomeio a Charlotte Mendelson e o autor sino-americano de policiais Qiu Xiaolong), a Tate Modern, as latas de chá da Fortnum & Mason (e estou eternamente grata à East India Company por ter surripiado os arbustos do chá à China para os cultivar no norte da Índia e no Ceilão), as capas para ipad da Smythson, o Colin Firth. Bom, tudo, tudo, não. Na verdade a Grã-Bretanha tem algo dentro de si verdadeiramente funesto. Algo cuja mais recente manifestação ocorreu algures pelo Iraque quando um londrino decapitou um inocente americano em frente a uma câmara de film