Má sorte ter sido jihadista

JOSÉ DIOGO QUINTELA  Público 31/10/2014 - 05:41

Não foram só os terroristas portugueses com emprego a serem prejudicados pelas declarações de Rui Machete.

Espero que apertem bem com Rui Machete na Comissão Parlamentar. Irresponsavelmente, pôs em causa a segurança de cidadãs portuguesas que combatem num exército cuja ambição última é tornar Portugal numa província do Califado.

Enquanto estavam sossegadas na jihad, o máximo que lhes podia acontecer era terem uma morte estúpida. Agora que os chefes sabem que uma ou duas ponderam voltar, passam a correr o risco de ter uma morte estúpida. De repente, por uma machetice, encontram-se numa situação periclitante.
Não se trata apenas de ter colocado em perigo as raparigas que se alistaram numa guerra. A inconfidência de Machete é um símbolo do desprezo deste Governo para com as condições de trabalho em que os jihadistas lusos espalham a morte na prossecução dos objectivos da organização terrorista onde são voluntários.
Os deputados da Comissão devem certificar-se que o Governo está a fazer tudo ao seu alcance para garantir o bem-estar dos nossos compatriotas terroristas. Têm material e treino adequados? A lâmina da faca deve estar bem afiada e ser usada correctamente, de modo a não causar uma tendinite no pulso ao decapitar um refém. Serrar na cervical tem truque. Talvez fosse boa ideia enviar uma delegação da Autoridade para as Condições do Trabalho.
Mais: que tipo de acompanhamento psicológico é prestado? Suponhamos que uma das jihadistas portuguesas é transgender. O ISIS subvenciona consultas de reatribuição de sexo? Há alguma Unidade Reconstrutiva Genito-Urinária e Sexual? Quem garante os direitos desta mulher que quer ser homem? Parece uma questão picuinhas, dada a irrelevância estatística destes casos. Só que, a combater na Síria, a probabilidade de haver um transexual é muito maior. Pois se o objectivo é honrar Alá através da violência, uma terrorista muçulmana terá muito mais hipóteses de sucesso se se transformar num terrorista muçulmano. O homem tem acesso a armas superiores e, como não usa niqab, tem melhor pontaria. Além de que escolhe os atentados em que participa, optando pelos que granjeiam mais prestígio. Enfim, é um terrorista de primeira em vez de ser uma terrorista de pechisbeque.
Mas não foram só os terroristas portugueses com emprego a serem prejudicados pelas declarações de Rui Machete. Os jovens com ambições na área da carnificina, que procuram oportunidades lá fora, sentem-se desencorajados por um Governo que não os apoia na realização dos seus sonhos. Para se chacinar com profissionalismo é necessária paz de espírito. Se o terrorista sente que o seu país não o apoia, tem dificuldades em focar-se na mortandade. Mais uma vez, desperdiçamos a geração mais bem preparada de sempre. Rui Machete cortou as pernas a quem deseja ir cortar cabeças.

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