Um amor para toda a vida

Pedro Vaz Patto
Voz da Verdade, 2013-11-03

Foi anunciada a reunião, dentro de um ano, de uma assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, que debaterá temáticas relativas à pastoral da família.
A propósito, vão-se criando, em muitas pessoas, expetativas de que possam surgir novidades no que diz respeito ao acolhimento e inserção na Igreja das pessoas divorciadas em segunda união (que são cada vez em maior número). Estas não estão excluídas da Igreja, como repetidamente tem sido afirmado por vários Papas, mas, dada a irregularidade da sua situação, não têm acesso aos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, o que naturalmente não deixa de ser motivo de dor para elas.
O Papa Francisco vem insistindo na importância de a Igreja ser, antes de tudo, um sinal do amor e da misericórdia de Deus, que «cura as feridas e aquece os corações». Por detrás das histórias de separações e divórcios, estão quase sempre experiências de grande sofrimento. São estas feridas a que uma Igreja acolhedora não pode deixar de ser sensível. Antes da imposição de qualquer norma, que poderá justificar-se em nome de um bem mais amplo, as pessoas nessa situação devem saber que há quem partilhe esse seu sofrimento e com elas quer caminhar na descoberta do projeto do amor de Deus sobre elas.
Não nos cabe antecipar o que possa surgir de novo a este respeito. Certo é que esta questão, como também afirmou o Papa Francisco, não pode ser abordada isoladamente e deve ser inserida no âmbito mais vasto da pastoral da família.
Quando foi diretamente interpelado sobre esta problemática, no Encontro Mundial das Famílias de Milão, em 2012, o Papa Bento XVI começou por salientar que muito deve ser feito para evitar as separações e divórcios, na correta preparação para o casamento e no apoio aos casais que enfrentam, quase sempre sozinhos, dificuldades de relacionamento. Também aqui, «mais vale prevenir do que remediar…». E não podemos agir como se fosse inevitável o multiplicar destas situações.
A questão não pode ser abordada isoladamente também porque não podemos esquecer as repercussões que tem em âmbitos mais vastos, e especificamente na valorização do dom precioso que é a indissolubilidade do casamento.
O mesmo Jesus Cristo e os mesmos Evangelhos que proclamam o amor e a misericórdia de Deus (na parábola do filho pródigo e em muitas outras passagens), proclamam a indissolubilidade do casamento («Não separe o homem o que Deus uniu»). Quando começou a ser debatida a problemática da inserção na Igreja das pessoas divorciadas em segunda união, afirmou a propósito o Papa Paulo VI que poderíamos ir até onde o Evangelho nos permitisse.  
Importa certamente distinguir entre um casamento válido e um casamento nulo (em que Deus «não uniu», porque não estavam reunidas os pressupostos para tal). Declarar a nulidade de um casamento (e muito pode ainda fazer-se no sentido da agilização dos processos respetivos) não contraria o princípio da indissolubilidade do casamento.
Mas é importante continuar a proclamar esse princípio, designadamente diante de quem se prepara para casar e diante de quem enfrenta as naturais dificuldades de uma vida a dois. Não se trata de uma imposição absurda, mas da mais adequada resposta à aspiração natural da pessoa, que é a de um amor "para sempre". E também o que é mais conforme ao bem da sociedade, cuja coesão depende da coesão da sua célula fundamental. Que em cada dois casamentos um termine em divórcio (como sucede em muitos países), ou que passem a ser exceção as crianças e jovens que vivem com a mãe e o pai juntos, certamente não faz parte do desígnio de Deus sobre a humanidade, nem de modo algum contribui para a coesão da sociedade e para o bem das gerações futuras. Por muito que se generalize o divórcio, não pode a Igreja desistir de afirmar (se não for ela a fazê-lo, quem o fará?) que o casamento é para toda a vida.

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