DEMOCRATICAMENTE COM RUMO

Miguel Alvim
2012-11-09

Com uma capacidade de resistência que é pouco menos do que notável, Pedro Passos Coelho e o seu Ministro das Finanças (mais Nuno Crato, e provavelmente, Álvaro Santos Pereira) têm feito um árduo elogio da representação democrática e do sistema de governo de Primeiro-Ministro.
Realmente, se se é eleito é para se governar.
Pode-se, é certo – e isso tem sido feito à saciedade, mesmo à balda e com muita falta de verdade nos media – discutir globalmente e em pormenor a bondade ou o desacerto de todas e de cada uma das opções deste governo de coligação.
Mas dentro da margem de manobra concedida pelo memorando da Troika (convém não esquecer o óbvio de que o memorando foi convocado e assinado pelo PS), não se pode negar ao governo rumo e resiliência, para usar a estafada expressão de Passos.
Contra protagonistas (pelo visto menores) da coligação, contra muitos interesses instalados, maxime os dos partidos do “arco da coligação”, o governo tem governado.
Pode governar melhor?
Pode e deve.
Pode comunicar melhor?
Pode e deve.
Pode ouvir mais outras visões e boas ideias?
Pode e deve.
Pode atacar mais as usurárias responsabilidades e as verdadeiras despesas escondidas que há décadas minam e corroem as finanças públicas?
Pode e deve, urgentemente.
Mas creio que há muito não se investia de maneira tão despudorada e profunda numa mudança de ciclo comportamental, quer ao nível das pessoas como do Estado.
Há realmente uma grande diferença (e nisso temos sido especialistas) entre as reformas propaladas e prometidas – todos dizem sim e todos as querem – e as reformas que se têm mesmo de fazer e fazem: ninguém as quer.
No caso Português, o comportamento mais grave, tanto privado, como público, estava no transversal consumo desbragado e a crédito.
Não sustentado.
Até que o “alguém há-de pagar” soçobrou.
A verdade é que não está a haver nenhum ataque às classes médias, como propalado na comunicação social e nalgumas ruas.
Está-se a pôr a casa na ordem.
E sucede que quem mais grita – dos partidos de todas as esquerdas, aos senadores da nação mais mortos que vivos, aos sindicatos e aos media – é quem tem mais poder (e tempo e dinheiro) para isso.
Os Portugueses que fazem a (enorme) maioria silenciosa, afinal, vão percebendo os sinais dos tempos e não partem montras (nem real, nem metaforicamente).
Apesar das reais dificuldades sentidas (a este propósito, vale bem a pena louvar a Santa Igreja que, discretamente, mata a fome dos que não têm pão, e que tão vilipendiada tem sido nos últimos anos pela agenda maçónica e pelo pós-modernismo tecnocrático pagão da esquerda radical minoritária.
Mas a maioria silenciosa dos Portugueses, dizia eu, aperta o cinto e manda-se ao trabalho (valorizando-o).
E sabe ver carácter onde ele existe, mesmo com falhas e imperfeições – quem não concordará, afinal, que Miguel Relvas é um elemento altamente pernicioso e tem de sair do Governo nacional quanto antes?
Mas até nessa lealdade à amizade (que tem de perder a bem de Portugal a dado momento, correndo com Relvas), Passos revela a (boa) massa de que é feito.
E os Portugueses valorizam acima de tudo carácter.
Quem não percebe isto não percebe nada da raça.
E para quem acha que o governo não faz nada e só destrói (o que é uma falácia), bastaria ouvir o ruído quase ensurdecedor feito pelos “donos de Portugal” que vêem os seus interesses mais ou menos milionários de há muitos anos afectados e que barafustam na república e rosnam sublevações anti-democráticas, para perceber que não há outro caminho senão mudar de paradigma e de rumo em democracia.
Como tem sido proposto nesta legislatura.
É que a independência de um povo faz-se de escolhas independentes e estas só podem ser as que nós podemos pagar.
Mas andámos distraídos anos demais com fracturas sociais e outros disparates, não é verdade?
E aceitámos pagar de forma cega e acéfala todas as facturas falsas a crédito dos beneficiários dos diversos poderes do regime?
E veio este dia.
Vamos manter a calma e deixemos o Governo governar e cumprir o mandato.
Portugal agradece.
E sobrevive.

Miguel Alvim
Advogado

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